Título: Regiões Sudeste e Sul concentram 76% das ONGs
Autor: Thomé, Clarissa
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/12/2012, Vida, p. A25

As organizações não governamentais (ONGs) de assistência social não acompanham a distribuição da pobreza no País, aponta estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Das 30,4 mil entidades que atendem “aos grupos mais vulneráveis da população”, 76,6% estão no Sul e no Sudeste, as regiões mais ricas. No Nordeste se concentram instituições de defesa de direitos, 37?7% do total - quase a metade (45,3%) das associações comunitárias e 52,5% das organizações de desenvolvimento rurais do País estão sediadas na região. O estudo analisa o registro das instituições, mas não avalia se elas exercem atividade fora das suas sedes.

Para a diretora executiva da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong), Vera Masagão, isso ocorre por dificuldades de financia mento. “As associações comunitárias e de defesa dos direitos são pequenas, contam com o trabalho de militantes e voluntários. Prestar serviço de assistência social envolve continuidade, funcionários, recursos contínuos, Ou se tem apoio governamental ou não se consegue manter esse trabalho. E o apoio governamental tem diminuído”, afirma Vera.

A socióloga Anna Maria Medeiros Peliano, pesquisadora do Ipea, lembra que essas instituições também atuam com mora- dores de rua, adolescentes em risco, exploração sexual, problemas frequentes nas metrópoles. “Tem de olhar com certo cuidado (o dado), porque há a ideia de que assistência social é restrita à pobreza, mas extrapola para outras questões”, diz Anna Maria.

Divisão. Quase um terço das fundações privadas e associações sem fins lucrativos é religiosa (28,3%), seguida de associações patronais e profissionais (5,5%) e de desenvolvimento e defesa de direitos (14,6%).

As entidades de meio ambiente e proteção animal correspondem a menos de 1% das instituições. Existem 2.242 associações e fundações com esse perfil - 60% delas criadas na última década. “O crescimento não foi na proporção esperada. O estudo faz uma constatação, mas não permite explicação”, afirma Anna Maria.

A pesquisa mostra que 2,1 milhões de pessoas trabalham nas 290,7 mil organizações que se enquadram nos critérios de definição das Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos (Fasfil) não são estatais nem têm fins lucrativos, são legalmente constituídas, voluntárias e autoadministradas. Entre 2006 e 2010, houve crescimento de 8,8% dessas instituições - o que mostra uma desaceleração do setor. Entre 2002 e 2005, a expansão havia sido de 22,6%.

Do total das instituições, 40,8% surgiram na década passada, mas empregam apenas 18,5% da mão de obra. As mais antigas, criadas até 1980, correspondem a 12,7% das ONGs e ali trabalham 47,3% das pessoas empregadas no setor.

A mão de obra feminina é predominante - são 62,9% de mulheres, ante 37,1% de homens. O levantamento mostra que 1 em cada 3 pessoas empregadas em instituições sem fins lucrativos tem nível superior completo. Nos demais segmentos da economia acompanhados pelo IBGE, essa proporção é de 1 em cada 6. “E bem acima do que se observa em outros setores”, afirma Anna Maria.