Título: Produção de máquinas, termômetro do investimento, recua cinco anos
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/12/2012, Economia, p. B1

De janeiro a outubro, vendas das indústrias brasileiras tiveram queda de 14,6%, aproximando-se do mesmo nível registrado em 2007

MARCELO REHDER - O Estado de S.Paulo

A indústria de máquinas e equipamentos andou cinco anos para trás em 2012, indicando que os investimentos continuam travados no Brasil. De janeiro a outubro, as vendas ao mercado interno, das indústrias brasileiras do setor, recuaram 14,6% em relação a igual período de 2011, somando R$ 36,7 bilhões, praticamente o mesmo resultado de 2007 (R$ 34,2 bilhões), segundo a Abimaq, que reúne fabricantes de máquinas.

A torcida para que os investimentos decolem é grande, mas os números da indústria de máquinas não são animadores. Até mesmo as importações, que já respondem por 60% de todas as máquinas vendidas no mercado brasileiro, também recuaram no terceiro trimestre, de acordo com o IBGE.

O cenário para investimentos continua muito fraco, diz a economista Tereza Fernandes, sócia-diretora da MB Associados. "O investimento privado deu uma meia trava, seja porque são setores que estão micados no mundo, como siderurgia, mineração e papel e celulose, seja porque a turma está desconfiada das mudanças nas regulamentações que estão vindo em cima da hora, especialmente em infraestrutura, que é o que precisa muito de ter investimentos."

Fabricantes de equipamentos pesados, como a Caterpillar, estão com estoques excessivos. Para evitar que, com as vendas em queda, os estoques aumentem ainda mais, a Caterpillar decidiu frear a produção.

Há cerca de um mês, a empresa, sediada em Piracicaba, interior paulista, negociou com o sindicato dos metalúrgicos um plano de demissões voluntárias (PDV), com objetivo de dispensar 300 trabalhadores. Na sexta-feira, a Caterpillar informou que a meta foi alcançada.

Também foi acertado com o sindicato que a empresa colocará em lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho) 400 trabalhadores por um período de três meses, a partir da segunda metade de dezembro. Além disso, não renovou os contratos de 300 trabalhadores temporários que venceram este ano.

"Vale a pena o esforço do lay-off", diz Hugo Liva, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos. "Alguns sindicatos são contra, mas já fizemos lay-off para mil trabalhadores da Caterpillar, na crise de 2009, e todos voltaram para os seus postos."

Nos últimos dez meses, o consumo aparente de bens de capital no Brasil cresceu 1,9% sobre o mesmo período de 2011, para R$ 94,3 bilhões. A diferença entre esse valor e o faturado pelas empresas brasileiras corresponde às importações, que responderam por 60% do consumo. Em 2011, essa participação era de 53,57% do mercado.

A fatia do bolo. "O bolo não cresceu e a fatia brasileira diminuiu", resume Luiz Aubert Neto, presidente da Abimaq. Tanto é que, nos últimos dez meses, o nível de utilização da capacidade instalada da indústria caiu, em média, de 81,4%, no ano passado, para 75%, o mais baixo dos últimos 40 anos. Para o executivo é mais um indicador de que fabricantes brasileiros estão deixando de produzir para virar importadores.

"Se não conseguem concorrer, as empresas se aliam ao inimigo, importando máquinas do Xing Ling", diz Aubert, bem humorado, referindo-se aos concorrentes chineses. "Elas carimbam o seu nome e passam a revender e a dar assistência técnica ao produto importado."

As raízes dessa situação vão além do câmbio, diz Tereza, da MB Associados. Ela cita a baixa de competitividade sistêmica provocada pelo custo Brasil e a falta de modernidade das fábricas brasileiras.

"A indústria de bens de capital, em especial, não tem investido em melhorias de processos, em modernização de equipamentos e, muito menos, em aumento de capacidade produtiva, o que só agrava o problema da competitividade", afirma.

Nos últimos três anos, as empresas não cumpriram as previsões de investimentos feitas à Abimaq, conta Mário Bernardini, diretor de competitividade da entidade. "Todo ano o investimento tem sido frustrante, porque o quadro da economia não tem melhorado", explica.