Título: PIB só acelera se investimento melhorar
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/12/2012, Economia, p. B4

Economistas "ortodoxos" e "heterodoxos" são unânimes no diagnóstico, mas têm visões diferentes sobre como alcançar o objetivo

O decepcionante resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre consolidou entre analistas a ideia de que o governo Dilma precisa destravar os investimentos se quiser acelerar o ritmo de crescimento do País. É uma avaliação consensual, mesmo entre profissionais de "escolas" econômicas diferentes. A questão é como alcançar esse objetivo.

Para alguns, o problema está na oferta da economia, estrangulada pelo conhecido - e abominado - custo Brasil. Para outros, o desafio continua a ser a demanda, que precisa ser estimulada ainda mais para despertar o "espírito animal" dos empresários.

No terceiro trimestre, os investimentos no País, medidos pela chamada Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), caíram 2% na comparação com os três meses anteriores e 5,6% em relação ao mesmo período de 2011. Foi o quinto trimestre seguido de recuo no indicador.

Não à toa, o governo promete, já para esta semana, novas medidas para tentar estimular os investimentos. "Vamos continuar com a desoneração da folha de pagamentos em 2013", disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, logo depois que os dados trimestrais foram divulgados.

Se as medidas se confirmarem, o governo repetirá parte da estratégia adotada - com resultados modestos - para acelerar a expansão: reduzir os custos, sobretudo da indústria, para permitir uma folga de recursos que possa ser destinada a investimentos.

Os especialistas, de forma geral, avaliam que o foco deve ser mesmo a indústria, que tem sofrido mais que os serviços e o agronegócio nos últimos anos.

"A produtividade da indústria caiu, em média, 1% ao ano entre 2001 e 2011, enquanto a mesma medida para o agronegócio mostrou expansão de 3% e, nos serviços, de 1,1%", nota José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados e ex-secretário de Política Econômica da Fazenda. "Estamos assistindo a um claro processo de desindustrialização do País", emenda Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp e um dos principais conselheiros econômicos no governo Lula.

As razões da derrocada industrial passam pela valorização do real ante o dólar, concorrência chinesa, custo Brasil e crise global, que levou a uma superoferta de manufaturados. "A indústria tem importante efeito de dinamização sobre o resto da economia, ainda que represente cerca de 25% do PIB, ante 65% dos serviços", argumenta Belluzzo.

O consenso, portanto, é o de que o investimento precisa crescer, notadamente na indústria. A divergência está em como chegar lá. Os economistas que seguem a linha batizada de ortodoxa, como Mendonça de Barros, defendem menos intervenção do governo na economia e prioridade para medidas estruturais, como a reforma tributária.

Agenda. É uma agenda da qual, até agora, o governo Dilma passou longe. As mudanças, evidentemente, beneficiariam todos os setores da economia, mas a indústria, como está estrangulada, provavelmente ganharia mais em termos comparativos.

Os heterodoxos, como Belluzzo, avaliam que a direção geral está correta. Faltariam apenas alguns aprimoramentos - e paciência para que as mudanças façam efeito no PIB. Eles de referem à redução da taxa Selic aos níveis mais baixos da história e à intervenção do governo no câmbio, que levou o dólar da casa de R$ 1,75 para os atuais R$ 2,10.

"O governo atual tem uma visão estreita do conjunto do processo econômico", critica o ex-presidente do Banco Central (BC) Affonso Celso Pastore, que integra o grupo dos que defendem foco na oferta.

"A mola do crescimento vai continuar a ser o consumo das famílias. O empresário só investe na expansão da oferta se houver demanda", rebate o ex-secretário de Finanças do município de São Paulo Amir Khair.

Gustavo Loyola, outro ex-presidente do BC, também pede atenção à oferta. "O governo Lula se preocupou mais em colher do que em plantar e a presidente Dilma tem de lidar com essa herança, de certa forma, maldita."

Sejam ortodoxos ou heterodoxos, os analistas acreditam que o ritmo de expansão não vai melhorar substancialmente até 2014. Para Pastore, o crescimento potencial do Brasil está hoje na faixa de 3,5%. "E isso em um ano bom", frisa. Se o País chegar lá em 2013 e 2014, a média dos anos Dilma terá sido de 2,7%.