Título: PT cobrava pedágio eem contratos do Banco do Brasil, afirma Marcos Valério
Autor: Rizzo, Alana ; Macedo, Fausto
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/12/2012, Nacional, p. A4

Empresário afirmou no depoimento prestado em 24 de setembro que 2% dos contratos com o Banco do Brasil ia para caixa do partido

O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza afirmou no depoimento prestado em 24 de setembro à Procuradoria-Geral da República que di­rigentes do Banco do Brasil es­tipularam, a partir de 2003, uma espécie de pedágio às agências de publicidade que prestavam serviços para a ins­tituição financeira pública: 2% de todos os contratos eram enviados para o caixa do PT, acusou o homem apon­tado como o operador do mensalão pelo Supremo Tri­bunal Federal.

O Estado revelou ontem que, neste mesmo depoimento, dado à subprocuradora da República Cláudia Sampaio e à procurado­ra da República Raquel Branqui­nho, Valério afirmou que dinhei­ro do esquema que pagou parla­mentares do Congresso entre 2003 e 2005 também serviram para pagar "despesas pessoais" do ex-presidente Luiz Inácio Lu­la da Silva. O empresário tam­bém afirmou, entre uma série de novas acusações, que Lula deu "ok" aos empréstimos fraudu­lentos que viriam a irrigar o men­salão.

Segundo Valério disse no de­poimento, o suposto esquema de desvio de dinheiro público que teria de ir para a publicidade foi criado por Henrique Pizzolato, ex-diretor do Banco do Brasil - também condenado no julga­mento do mensalão -, e Ivan Gui­marães, ex-presidente do Banco Popular do Brasil, No período co­nhecido como de operação ple­na do mensalão, de 2003 a 2004, o Banco do Brasil pagou, segun­do dados CPI dos Correios, pelo menos R$ 434 milhões a agên­cias de publicidade. Ao longo desse período de dois anos, a DNA, empresa de Valério que de­tinha um dos contratos, aumen­tou sua participação nos acor­dos enquanto o bolo das demais agência declinava. Ainda no primeiro ano de go­verno do ex-presidente Lula, a DNA conseguiu renovar o contra­to com o Banco do Brasil. O valor estimado dos gastos de publicida­de era de R$ 152,8 milhões, segun­do informações do Ministério Pú­blico Federal. A renovação teria rendido ao ex-diretor de Marke­ting Henrique Pizzolato, réu no processo do mensalão, mais de R$ 300 mil de contrapartida.

Além da DNA, a licitação 01/2003 originou contratos com a Ogilvy Brasil Comunicação Lt­da e a D+Brasil Comunicação To­tal. Entre março de 2000 e junho de 2005, a agência de Valério res­pondia por 39,77% da verba pu­blicitária do banco. Os dados são da CPI dos Correios.

Os contratos firmados em se­tembro de 2003 entre o Banco do Brasil e as três agências alcan­çavam todo o conglomerado do Banco do Brasil, incluindo em­presas ou entidades que fossem criadas e a Fundação Banco do Brasil Comandado por Ivan Gui­marães, o Banco Popular do Bra­sil funcionava como uma subsi­diária integral, cuja autorização de funcionamento foi publicada em dezembro de 2003.0 ex-pre­sidente também esteve envolvi­do no episódio da compra do apartamento da ex-mulher de Jo­sé Dirceu por Rogério Tolentino, sócio de Marcos Valério.

Segundo o MPF, os desvios no Banco do Brasil foram prati­cados por meio dos chamados bô­nus de volume, que consistia na, violação de cláusulas de contra­to que permitiam a DNA se apro­priar de valores que teriam que ser devolvidos. Pizzolato teria autorizado a prática em troca de propina. O que o depoimento de Marcos Valério revela agora é que a negociação teria incluí­do outra cláusula: o repasse pa­ra o PT.

Além disso, os recursos de pu­blicidade fornecidos pela Visa­net do Banco do Brasil teriam si­do desviados por meio de antecipações autorizadas por Pizzolato em benefício da empresa de ! Marcos Valério. Na denúncia, o I MPF afirma que o dinheiro foi repassado sem que o serviço ti­vesse sido prestado e sem qual­quer garantia de contrapartida. O contrato da DNA com o Banco do Brasil sequer atingia as ver­bas de publicidade da Visanet.