Título: Dilma pede respeito a antecessor e considera denúncias lamentáveis
Autor: Netto, Andrei ; Cardoso, Daiene
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/12/2012, Nacrional, p. A8

Em Paris, presidente repudia o que chama de "tentativas de destituir" Lula da consideração que tem entre a população

A presidente Dilma Rousseff co­mentou ontem à noite, em Paris, as denúncias feitas por Marcos Valério e reveladas pelo Estado sobre os vínculos entre o ex-pre­sidente Luiz Inácio Lula da Silva e o escândalo do mensalão. Em uma coletiva ao lado do chefe de Estado da França, François Hol­lande, Dilma taxou de "lamentá­vel" o que definiu como tentati­va de "destituí-lo da imensa car­ga de respeito que o povo brasi­leiro lhe tem". Em solidarieda­de, o francês disse que Lula "é uma referência", Dilma se manifestou sobre o tema quando foi indagada por jornalistas brasileiros ao término do encontro bilateral com Hollande. Em tom severo, a presidente pediu para responder antes do francês e reiterou sua "ad­miração, respeito e amizade pelo presidente Lula". "Eu repu­dio todas as tentativas, e esta não é a primeira vez, de destituí-lo da imensa carga de respeito que o povo brasileiro lhe tem", afirmou, enumerando políticas de seu antecessor.

"Respeito porque o presiden­te Lula desenvolveu o País e é responsável pela distribuição de renda mais expressiva dos últi­mos anos. Respeito pelo que ele fez internacionalmente, pela sua extrema amizade pela África, por seu olhar para a América Latina e pelo estabelecimento de relações iguais com os países desenvolvidos do mundo."

Dilma disse ainda que não pre­tendia responder sobre o assun­to no exterior, mas se mostrou instigada a fazê-lo em resposta às denúncias. "Eu não poderia deixar de assinalar que eu consi­dero lamentável essas tentativas de desgastar a imagem do presi­dente Lula", disse, reiterando: "Acho lamentável".

Ao término da declaração, Dil­ma foi aplaudida pelos demais membros do governo brasileiro, entre os quais os ministros Anto­nio Patriota (Relações Exteriores), Celso Amorim (Defesa), Gui­do Mantega (Fazenda), Fernan­do Pimentel (Desenvolvimento) e Aloizio Mercadante (Educa­ção) e Marco Aurélio Garcia, que acompanhavam a entrevista.

Instantes depois, Hollande fez um adendo a outra resposta para reafirmar seu apreço ao bra­sileiro. "Sobre o presidente Lu­la, quero dizer que ele tem na França uma imagem considerá­vel. È um homem que defendeu constantemente o princípio de Justiça e da igualdade, asseguran­do ao Brasil um desenvolvimen­to econômico absolutamente ex­cepcional", argumentou, ressal­tando: "Aqui o presidente Lula é visto como uma referência". Ao seu lado, Dilma agradeceu a ma­nifestação: "Obrigado, senhor".

Desde que chegaram a Paris, na segunda-feira, Lula e Dilma se encontraram pelo menos duas vezes. O primeiro encontro aconteceu no início da tarde de segunda, quando ambos almoça­ram juntos por cerca de uma ho­ra e 40 minutos. O tema da reu­nião não foi divulgado nem pela Presidência, nem pelos assesso­res do Instituto Lula. Aos jorna­listas, Mercadante disse, mais tarde, que "Lula é um guerreiro",

O segundo encontro aconte­ceu na tarde de ontem, rio Fó­rum do Progresso Social, copromovido em Paris pelo Instituto Lula. No evento, o ex-presidente não se pronunciou. Dilma falou por mais de 30 minutos, mas se concentrou em temas econômi­cos e não fez nenhuma referên­cia às denúncias de Valério. / a,n.