Título: Oposição quer convocação, e base pede respeito a Lula
Autor: Domingos, João ; Madueno, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/12/2012, Nacional, p. A10

Tucanos também cobram investigação do Ministério Público, enquanto petistas dizem não aceitar que Valério divulgue "mentiras" no Congresso

Os partidos de oposição vão tentar levar o empresário Mar­cos Valério Fernandes de Sou­za ao Congresso para que ele forneça detalhes do depoimen­to prestado à Procuradoria-Geral da República no dia 24 de setembro. O PT já disse que não aceitará que Valério use o Congresso para fazer divulga­ção de "mentiras". No depoi­mento, Valério diz que o mensalão pagou despesas pessoais do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Além de defender o convite pa­ra que Valério preste esclareci­mentos no Congresso, a oposi­ção decidiu pedir à PGR cópia do depoimento. "Entendemos que não há motivo para que o depoi­mento fique em segredo de Justi­ça. É dever do Ministério Públi­co, como defensor da sociedade, liberar o depoimento para que possamos tomar conhecimento de seu inteiro teor", afirmou o líder do PSDB na Câmara, Bruno Araújo (PE).

Para o líder do PSDB no Sena­do, Álvaro Dias (PR), o Ministé­rio Público deverá iniciar imedia­tamente as investigações que envolvem Lula e outros integran­tes de seu governo no mensalão. "O MP deve instaurar os procedi­mentos para a investigação judi­ciária a fim de que, se delitos fo­ram praticados, as responsabili­zações civil e criminal alcancem também aqueles que se ausenta­ram neste primeiro momento do julgamento do Supremo Tri­bunal Federal."

Já o senador Aécio Neves, que deverá assumir a presidência do PSDB em maio, disse que sente dificuldades em acompanhar o ritmo dos escândalos. "Estáva­mos nos articulando em relação à denúncia da semana passada (a Operação Porto Seguro), e agora já surgiu uma nova. A capacidade do PT de produzir agenda negati­va é maior do que nossa capacida­de de enfrentá-las", ironizou.

Base. Já os partidos da base saí­ram em defesa de Lula. "Quem faz um tipo de depoimento des­ses, depois de anos, é porque ten­ta tomar uma medida de desespe­ro. O PT jamais vai concordar com a vinda do Marcos Valério aqui, não vamos trazer um delin­quente para vir falar. Ele tem que estar preocupado é com as condi­ções dos presídios, porque vai fi­car preso um bom tempo", disse o líder do PT, Jilmar Tatto (SP). O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), chegou a pôr em dúvida a existência do de­poimento. "Se existiu, é uma pro­funda inverdade, porque a pes­soa que disse não tem autorida­de para falar sobre o presidente Lula, que é um patrimônio do País, da História do País por sua vida e tudo que ele tem feito", disse Sarney.

O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), des­tacou que o procurador da Repú­blica analisou o depoimento de Valério e concluiu que deveria ter cautela. Disse que toda a fala do empresário pode fazer parte de uma estratégia de seus advo­gados. O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), classificou de "desequilibrada" a declaração do operador do mensalão. "Não é uma afirmação que mere­ça crédito. É uma declaração de­sequilibrada, descontextualizada. E uma tentativa de confundir o processo já julgado", disse.