Título: Partidários lideram sessões de oração após anúncio da cirurgia de Chávez
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/12/2012, Internacional, p. A16

Tensão venezuelana. Atos de campanha chavistas para as eleições regionais marcadas para domingo se convertem em missas pela saúde do líder bolivariano; Correa, presidente equatoriano, fala em "operação delicada" e "um dos momentos mais difíceis de sua vida"

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, foi submetido ontem a uma cirurgia em Cuba para retirada de células malignas na área da pélvis - a quarta operação desde que foi diagnosticado com câncer, em junho de 2011. Os estágios iniciais da operação foram confirmados ontem à tarde pelo Ministério da Comunicação.

Em diversos Estados, simpatizantes do líder bolivariano foram às ruas rezar pela saúde do presidente e líderes chavistas chegaram a chorar em público.

"A equipe médica que atende o presidente Hugo Chávez deu início ao protocolo preparatório para a cirurgia a qual ele se submeterá hoje (ontem)", informou o ministério, por meio de nota. "Os médicos estão otimistas sobre o êxito da operação, que faz parte do tratamento para o presidente recuperar plenamente sua saúde."

O comunicado, que foi lido também em rede nacional de rádio e TV, pede ainda que o povo venezuelano continue rezando pela recuperação do líder e ressalta "a lealdade inquebrantável do governo ao presidente".

O início da cirurgia tinha sido divulgado pouco antes pelo presidente do Equador, Rafael Correa, que esteve com Chávez no hospital em Havana.

O tom da declaração, no entanto, era menos otimista do que o oficial: "Um querido amigo e colega, o comandante Hugo Chávez, está sendo operado neste instante", disse o equatoriano, durante um ato na fronteira do Equador com a Colômbia. "É uma cirurgia delicada e ele passa por um dos momentos mais difíceis de sua vida. Ofereço nosso coração e nossa solidariedade a um presidente histórico. Esperamos que ele se restabeleça desse problema de saúde que enfrenta."

No sábado, Chávez tinha regressado de Cuba, onde estava ; internado desde o fim de novembro, para Caracas. Na Venezuela, anunciou a nova cirurgia e designou seu vice-presidente, Nicolás Maduro, como sucessor.

Orações. Ontem, em um ato de : campanha em Miranda, o sucessor indicado de Chávez, Nicolas Maduro, e o candidato ao governo do Estado nas eleições regionais de domingo, Elias Jaua, choraram e juraram lealdade ao presidente. "Chávez tem um povo, e terá a nós para sempre nessa batalha, de vitória em vitória", disse Maduro. "Seremos leais a Chávez até depois desta vida."

No Estado de Trujillo, o candidato chavista Henry Rangel Silva organizou uma missa pela saúde do presidente. "Unido, o povo de Trujillo suplica pela cura do presidente Chávez com a nossa fé mais profunda", orou candidato, que já foi ministro da Defesa. "Atenda ao clamor desses homens e mulheres pela sua cura."

O culto foi realizado no Santuário José Gregorio Hernández, médico venezuelano morto em 1919 a quem milagres são atribuídos. Em Falcón, trabalhadores da indústria petroleira, a principal da Venezuela, também rezaram pelo presidente.

De maneira geral, o clima na Venezuela é um misto de surpresa e comoção com o anúncio do líder bolivariano. "O povo está comovido com o anúncio do presidente. O mistério que envolve a doença acostumou as pessoas a receberem as informações a conta-gotas. O discurso de sábado teve um impacto tremendo", disse ao Estado o cientista político Omar Noria, da Univesidade Simón Bolívar. "Os simpatizantes de Chávez estão inundados de tristeza. Os que são críticos a ele foram surpreendidos com a gravidade de suas palavras."

Futuro. Caso Chávez morra ou não tenha condições de tomar posse para o seu quarto mandato em 10 de janeiro, cabe ao presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, convocar novas eleições presidenciais. A incapacidade do presidente teria de ser atestada por uma junta médica indicada pelo Supremo Tribunal de Justiça. Se Chávez se recuperar, tomar posse, mas morrer ou tornar-se incapaz de concluir os quatro primeiros anos do mandato, o vice-presidente - no caso, Maduro - assume e convoca novas eleições.

Cabello, um dos subordinados cotados para substituir Chávez juntamente com Maduro e Jaua, é visto com ressalvas por alguns setores do chavismo. "Muitos chavistas consideram : Diosdado corrupto e de direita", disse ao Estado o analista Oscar Reyes, consultor do canal estatal TVES. "Maduro tem um perfil ideológico mais próximo ao de Chávez e, por ter sido chanceler, sabe negociar."

Para o analista da USB, o papel central em uma eventual transição será desempenhado pelo Exército. "Se os militares mantiverem sua coesão em torno do projeto chavista, não creio que haja rupturas", disse Noria. "O PSUV está afetado por uma série de tensões internas decorrentes das eleições regionais, mas Chávez, ou a figura dele, ainda manterão a unidade do partido por um tempo."

Antes de embarcar para Cuba, Chávez nomeou o novo ministro da Defesa da Venezuela. O almirante Diego Molero substituiu Rangel Silva, que disputa o governo de Trujillo. Em comunicado, o novo ministro prometeu lealdade a ele ao povo venezuelano e desejou melhoras ao presidente.