Título: Ministros saem em defesa de Lula e tentam desqualificar Marcos Valério
Autor: Moura, Rafael Moraes ; Domingos, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/12/2012, Nacional, p. A4

Vamiildo Mendes

A partir de ordens da presiden­te Dilma Roussefif, os ministros do PT saíram ontem em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e iniciaram uma ação coordenada a fim de ten­tar desqualificar o depoimento prestado em 24 de setembro pe­lo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza à Procura-doria-Geral da República.

O primeiro a se manifestar foi o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidên­cia), que aproveitou um café da manhã com jornalistas para di­zer que Lula, de quem foi chefe de gabinete, não compactua com qualquer tipo de malfeito (mais informações abaixo).

Logo em seguida, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardo­zo, desqualificou o depoimento dado ao Ministério Público Fede­ral pelo empresário, que acusou o ex-presidente Lula de ter dado "ok" a operações bancárias para financiar o mensalão e de ter usa­do dinheiro do esquema para custear despesas pessoais.

Dilma já havia defendido o ex-presidente. "Considero lamentá­veis essas tentativas de desgastar a imagem do presidente Lula", afirmou a presidente em viagem em Paris, onde se encontrou com o antecessor e padrinho político.

"Do ponto de vista jurídico, isoladamente, esse depoimento não tem nenhum significado", afirmou ontem Cardozo.

Segundo o ministro, as revela­ções de Valério foram feitas "sem prova alguma", por alguém numa situação de desespero, após ser condenado a mais de 40 anos de prisão no julgamento do Supremo Tribunal Federal. "É uma peça produzida por uma pessoa processada e condenada a muitos anos de prisão. Foi feita exclusivamente na tentativa ou de tumultuar o processo, ou de negociar a redução de sua pena."

Cardozo deu as declarações após participar da solenidade de lançamento da Escola Nacional de Mediação e Conciliação, cria­da pelo governo federal em coo­peração com o Poder Judiciário, para reduzir o volume de deman­das que abarrota a Justiça e facili­tar a solução negociada de confli­tos entre as partes. O ministro acusou a oposição de tirar provei­to político da situação. .

"É natural que o debate se colo­que por setores da oposição, que até agora não tem um discurso muito claro em relação a propos­tas para o País", disse. "Ao se uti­lizar disso, (a oposição) tenta exercitar sua retórica política, nada mais", afirmou o ministro.

Sem inquérito. Cardozo disse ainda que não vê razão para a Po­lícia Federal, de ofício, abrir in­quérito com base nas declarações de Valério ao Ministério Pú­blico. "Foi um depoimento dado à Procuradoria-Geral da Repúbli­ca. O que vai ser feito em relação a ele, só o Ministério Público, no momento apropriado, dirá", afir­mou. "Só então será definido se é o caso de abrir um inquérito, ou se será feito o arquivamen­to", disse o ministro.

Na terça-feira e ontem, o Esta­do revelou detalhes do depoi­mento de três horas e meia pres­tado por Valério à subprocurado­ra da República Cláudia Sampaio e à procuradora da República Ra­quel Branquinho. O operador do mensalão afirmou que dinheiro do esquema foi usado para pagar parlamentares do Congresso Na­cional entre 2003 e 2005 e tam­bém serviu para bancar "despe­sas pessoais" do ex-presidente Lula. O dinheiro foi depositado, disse Valério, na conta de uma empresa de Freud Godoy, que foi assessor pessoal de Lula.

Outro ministro que também fez a defesa de Lula foi Paulo Ber­nardo (Comunicações). Para ele, tudo levar a crer que Marcos Valério pode estar desesperado.

"É uma pessoa que foi conde­nada, que pode estar desespera­da, levantando essas questões aí, acho que elas deveriam ser anali­sadas com mais cuidado", disse o ministro a jornalistas, ao parti­cipar da cerimônia de posse do novo presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), o minis­tro Augusto Nardes.

Questionado se as investiga­ções não deviam ser aprofunda­das, Paulo Bernardo respondeu: "Olha, eu acho que as investiga­ções não pararam, faz dez anos que tem investigação sobre isso, né? Pelo menos nesses casos que vi citados rapidamente, não vi novidade nenhuma".

Confiança. Paulo Bernardo ain­da disse que fica "com a palavra" de Paulo Okamotto, diretor do Instituto Lula e amigo do ex-pre­sidente - Okamotto negou ter feito ameaças de morte contra o empresário.