Título: Marcos Valério nega autoria de lista que cita Mendes
Autor: Portela, Marcelo ; Kattah, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/12/2012, Nacional, p. A15

Declaração foi dada pelo empresário na semana passada ao Ministério Público de Minas Gerais

O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza negou em depoimento ao Ministério Público de Minas Gerais a au­toria de uma lista que relacio­na supostos repasses de recur­sos que seriam provenientes de caixa 2 da campanha à ree­leição, em 1998, do então go­vernador de Minas e atual de­putado federal, Eduardo Aze­redo (PSDB). Na lista apare­ciam como beneficiários no­mes de políticos - principal­mente tucanos e do ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes.

Q nome de Mendes aparece no documento relacionado à si­gla AGU, referência à Advocacia-Geral da União, órgão que ele chefiou durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O ministro é apontado na lista como benefi­ciário de um suposto repasse de R$ 185 mil.

Alista foi divulgada pela revis­ta Carta Capital no fim de julho, dias antes de ter início o julga­mento do mensalao pelo Supre­mo. Na contabilidade constava uma assinatura atribuída ao em­presário mineiro e registro em cartório no ano de 2007. Valé: rio, por meio de seu advogado, já havia afirmado que o documen­to era falso.

A Promotoria de Defe sa do Pa­trimônio Público de Belo Hori­zonte, responsável pela acusa­ção do chamado mensalão mi­neiro - suposto esquema de fi­nanciamento ilegal da campa­nha frustrada de Azeredo à ree­leição em 1998 abriu um proce­dimento para apurar a autentici­dade do documento. Foi solicita­da uma perícia no material, mas a tendência é que o procedimen­to seja arquivado. Convocado, Valério prestou depoimento na semana passada.

Inquérito. Os papéis têm data de 28 de março de 1999. No site do STF consta que Gilmar Men­des atuou como advogado-geral da União entre janeiro de 2000 e junho de 2002.0 ministro afir­ma que em 1999 era subchefe pa­ra Assuntos Jurídicos da Casa Ci­vil. Ele requereu à Procuradoria-Geral da República abertura de inquérito por calúnia, injúria e difamação contra a revista.

Mendes esteve no centro de uma polêmica ao se reunir com Luiz Inácio Lula da Silva em abril, quando o ex-presidente te­ria tentado pressionar para que o julgamento do mensalão fosse adiado para depois das eleições municipais. Mendes negou ter havido tentativa de chantagem, mas acusou Lula de atuar numa "central de divulgação" de boa­tos para tentar "melar" o julga­mento da chamada Ação Penal 470, o mensalão.

Lofoista* O material, de 26 pági­nas, foi encaminhado à Polícia Federal por Dino Miraglia, advo­gado do lobista Nilton Montei­ro, envolvido na divulgação da chamada lista de Furnas. No ano passado, Monteiro foi preso pela Polícia Civil mineira acusa­do de fraudar documentos para extorquir políticos do PSDB e advogados. Ele já foi libertado, mas o processo a respeito do ca­so ainda tramita na Justiça esta­dual mineira.

"Essa lista é um negócio falsifi­cado. Ele (Valério) disse (no de­poimento) que não reconhecia aquele documento, que tinha ca­racterísticas de uma falsifica­ção, como outras feitas por esse cidadão", afirmou o criminalis­ta Marcelo Leonardo, advogado de Marcos Valério. "O próprio Ministério Público não deu mui­ta importância a isso não,", acrescentou o advogado.

Miraglia reafirmou que acredi­ta na autenticidade da lista e dis­se que enviou cópias do docu­mento para o presidente do Su­premo Tribunal Federal, minis­tro Joaquim Barbosa, e para a Procuradoria-Geral da Repúbli­ca para ser anexado a outras in­vestigações que envolvem o men­salão mineiro.

Para Miraglia, a negativa de Va­lério já era esperada. Ele, porém, acredita que o empresário ainda pode mudar de posição. "Não sei qual a sua tática. Quando for con­denado pelo mensalão do PSDB, vai começar a falar, como está fa­zendo agora com o Lula?", inda­gou o advogado, que, em janeiro, será ouvido pela Polícia Federal.

De acordo com o promotor João Medeiros, a lista de auten­ticidade não comprovada em ; nada muda a convicção do Mi­nistério Público Estadual de que houve desvio de recursos públicos de estatais mineiras para financiar ilegalmente a : campanha de Eduardo Azeredo à reeleição em 1998.