Título: PF desativa quadrilhas que fraudaram vestibular em 38 faculdades de Medicina
Autor: Lira, Davi ; Mendes, Vanmldo
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/12/2012, Vida, p. A26

A Polícia Federal (PF) prendeu ontem 52 suspeitos de participarem de 7 quadrilhas que fraudaram 54 vestibulares de Medicina em 38 faculdades pri-f vadas de 11 Estados, além do Distrito Federal, rios últimos 18 meses. Cerca de mil candi-| datos tentaram se beneficiar da fraude no período e ao menos dez conseguiram vaga em uma das instituições.

Na ofensiva, intitulada Operação Calouro, a PF conseguiu identificar todos os líderes das sete organizações criminosas, que chegavam a cobrar até R$ 80 mil por vaga. Uma delas operava o esquema havia mais de 20 anos. Em cadavestibular, as quadrilhas chegavam a arrecadar até R$ 400 mil Os criminosos falsificavam o documento de identidade do candidato e colocavam um "clone" para fazer o vestibular. O esquema incluía também cola por meio de ponto eletrônico (mais informações nesta página).

A fraude nos exames de Medicina inclui instituições paulistas, entre elas a Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), a Universidade Anhembi Morumbi e a Universidade Nove de Julho (Uninove). Entre as prisões efetuadas, quatro foram em São Paulo.

A ação, no entanto, seria apenas o início de uma ofensiva mais ampla. Há indícios de que as organizações tenham atuado em exames da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), concursos públicos e em vestibulares tão concorridos quanto Medicina. "Investigamos tentativas de fraudes durante um ano e meio. Cessamos apenas uma pequena ponta do esquema", afirmou o delegado da PF Leonardo Damasceno, chefe do núcleo de in-teligencia policial na Superintendência do Espírito Santo - onde a operação foi deflagrada.

.De acordo com Damasceno, todas as faculdades envolvidas foram vítimas do golpe e colaboraram com as investigações. Em média, cada instituição registrou 20 testes suspeitos de fraude em seus concursos no período. O pagamento do valor combinado dependia da aprovação do aluno.

O Estado apurou que a operação identificou a fraude em pelo j menos uma universidade pública ~ a quadrilha tentou, sem sucesso, burlar o processo seletivo j do curso de Medicina da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Não há indícios de fraude no vestibular de universidades federais nem nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

A maioria das prisões ocorreu em Goiás, que concentra seis das sete quadrilhas - foram 28 detenções e em Minas Gerais, onde 15 pessoas acabaram presas.

Aliados. Como se fosse um segmento regular do mercado, os grupos interagiam entre si, comparti-: lhavam experiências bem-sucedidas e praticavam um tipo de "concorrência amistosa", segundo de-fíniu o delegado. £fVários são nomes carimbados, quejáforampre-sos e, uma vez soltos, voltaram a atuar porque a atividade é muito lucrativa", explicou Damasceno,

As investigações começaram após uma denúncia num vestibular no Espirito Santo. Foram expedidos, ao todo, 73 mandados de : apreensão e 70 de prisão de membros de quadrilhas espalhadas por Goiás, Mato Grosso, Rondônia, Bahia, Rio Grande do Sul, São Paulo, Espírito Santo, Santa Cata: riria, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pará e Distrito Federal, além do Espírito Santo. Entre os suspeitos estão médicos, engenheiros e estudantes de Medicina. Eles foram indiciados por crimes de formação de quadrilha, falsidade ideológica, falsidade documental, lavagem de dinheiro e pelo crime de fraude em seleções públicas. As penas vão de 1 até 10 anos de prisão.

Segundo o delegado, no entanto, na maioria dos casos - que ocorreriam especialmente em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais - a quadrilha não "consumia a fraude". "Du-1. rante todo esse período de investigações, chegamos a prender em flagrante outros 60 suspeitos de usar documento falso."

Os "candidatos que contrataram os serviços das quadrilhas não serão presos, mas responderão pelo crime de falsidade ideológica - incluindo os que não conseguiram vaga no curso de Medicina. A pena varia de 1 a 3 anos.

A PF também vai enviar para as instituições a lista de alunos que compraram gabarito para que os expulse. A mesma lista será enviada ao Ministério Público para adoção de medidas penais.

No entanto, caso existam estudantes que tenham entrado na faculdade de Medicina de forma fraudulenta e chegaram a concluir o curso, o registro nao seria cassado. "Nós não temos dispositivo legal para isso", diz o presidente do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cre-mesp), Renato Azevedo.