Título: China e África do Sul suspendem carne brasileira
Autor: Paraguassu, Lisandra; Ferreira, Venilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/12/2012, Economia, p. B5

Os dois países se juntam ao Japão, que já havia adotado decisão semelhante por temores de contaminação com a doença da vaca louca

Os governos da China e da África do Sul determinaram ontem a suspensão imediata da importação da carne bovina brasileira por temores de contaminação com a doença da vaca louca. Os dois países se somam ao Japão, que já havia cortado a compra de carne brasileira há dois dias.

Outros países, entre eles Rússia e Venezuela, também estudam restrições e levam o governo brasileiro a temer um efeito em cadeia que pode causar prejuízos graves às exportações brasileiras. O Chile, outro país comprador, decidiu até agora não suspender a compra da carne, mas vai restringir a importação da farinha de ossos, usada na alimentação de animais e considerada a principal forma de transmissão da doença.

Até agora o efeito das suspensões anunciadas é limitado. As restrições da China não se estendem a Hong Kong, que é o segundo maior comprador de carne bovina brasileira no mundo e importa mais de 170 mil toneladas por ano. A China comprou este ano 14,8 mil toneladas de carne brasileira, o que, apesar de não ser muito representativo, mostra um crescimento de seis vezes em relação a 2011.

Os demais países que suspenderam a importação não são grandes compradores. O Japão comprou 1,5 mil toneladas, e a África do Sul, apenas 335 toneladas de miúdos, tripas e alimentos preparados de carne bovina. A última compra de carne congelada foi em 2008.

A entrada de Rússia e Venezuela traria prejuízos maiores. O primeiro, apesar de já ter embargo para carnes vindas do Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso, é o maior importador de cortes brasileiros. A Venezuela compra do Brasil 65% do gado e das carnes que consome. Apesar de não ter havido um comunicado oficial, a associação dos produtores do país já pediu ao governo a suspensão do comércio.

A presidente Dilma Rousseff não comentou ontem a decisão da China de suspender a importação de carne em razão do caso de vaca louca registrado no País em 2010. Segundo o porta-voz da Presidência, Thomas Traumann, a presidente desconhecia o assunto. "Ela acabou de saber por você", disse à repórter que fez a pergunta sobre o assunto à presidente. Dilma se limitou a levantar as mãos e inclinar a cabeça, sem falar sobre o assunto.

Defesa. Desde o anúncio de que um animal de uma fazenda em Sertanópolis, no Paraná, era portador do agente causador da encefalopatia espongiforme bovina (EEB) - nome oficial da doença - o governo brasileiro se prepara para reações internacionais. O Itamaraty começou uma ofensiva em seus postos diplomáticos para esclarecer a situação e tentar evitar maiores danos ao comércio, seja fazendo gestões aos governos, seja apenas dando explicações.

O Ministério da Agricultura decidiu enviar missões oficiais aos países que já anunciaram as suspensões para tentar reverter a situação. Ao mesmo tempo, técnicos do ministério iniciaram contatos com os maiores importadores de carne bovina.

O governo brasileiro, no entanto, prepara-se para ações mais fortes na OMC. Há o temor de que o caso, considerado restrito e sem riscos pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), seja usado como desculpa para a suspensão repentina de importações - como já está ocorrendo - e mesmo para casos de concorrência desleal, com um país tentando ocupar o espaço das carnes brasileiras usando o suposto risco do produto nacional.

As empresas brasileiras exportaram 1,114 milhão de toneladas de carnes e miúdos de janeiro a novembro deste ano, gerando uma receita de US$ 5,1 bilhões.

Ainda não há previsão de início de alguma ação, até mesmo porque a suspensão das importações aconteceu ontem, mas o Itamaraty planeja, se houver efeitos comerciais negativos, iniciar consultas com os países que determinaram a restrição de compras.

A consulta é um primeiro passo de negociação, onde são apresentados esclarecimentos sobre as medidas tomadas para que se tente evitar a abertura de um painel, onde se denunciam práticas comerciais inapropriadas.

O animal contaminado no Paraná morreu há dois anos, de um mal súbito sem relação com a doença da vaca louca. /COLABOROU CLAUDIA TREVISAN, DE MOSCOU