Título: Presidente solitária em meio de mandato
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/12/2012, Nacional, p. A4

Ao fazer 65 anos, ela brinca com "o fim do mundo"

Discreta e avessa a badalações, a presi­dente Dilma Rousseff disse a amigos que será diferente agora, aos 65 anos. Quando lhe pergunta­ram o motivo, ela respondeu: "É que o mundo vai acabar no dia 21".

A referência ao Calendário Maia, que prevê o fim do mundo em 21/12/12, é uma das poucas brincadeiras que Dilma tem feito nos últimos dias. Dona de tempe­ramento explosivo, com fama de "durona", a presidente - que com­pletou 65 anos na sexta-feira - costuma encarnar a "solidão do poder" e compartilha com pou­cos as angústias do governo.

No Palácio do Planalto, é co­mum ouvir que Dilma só consul­ta quatro pessoas sobre política: o Luiz, o Inácio, o Lula e o da Sil­va. Preocupada com "Vazamen­tos", ela aboliu há tempos o "nú­cleo duro" e as reuniões da coor­denação de governo com minis­tros, feitas às segundas-feiras pe­la manhã, e muitas vezes chama os auxiliares individualmente.

Antes de partir para França e Rússia, na semana passada, Dil­ma se encontrou com o presiden­te da Câmara, Marco Maia (PT- RS). "E então, como está o Calen­dário Maia?", perguntou ela, em tom bem-humorado, numa alu­são à pauta de votações da Casa.

A poucos dias do fim de seu mandato, em 1.° de fevereiro de 2013, Maia corre para aprovar projetos populares, mas sua atua­ção incomoda Dilma e muitos no Planalto contam as horas para que ele deixe o cargo.

A polêmica, agora, é em rela­ção aos royalties do pré-sal. "Não há mais o que fazer", afirmou a presidente, na quinta-feira. Em­bora o Planalto vá mobilizar a ba­se aliada para não mudar as re­gras do jogo agora, Dilma disse não poder impedir que o Congres­so derrube seu veto ao projeto que altera a divisão das receitas de exploração de petróleo. A vota­ção deve ocorrer na terça-feira.

Com poucos conselheiros na política e sem interesse pela dis­puta interna no PT, Dilma se apro­ximou do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que é econo­mista. Enciumados do PT dizem que, além de consultar Lula e Mer­cadante, a presidente também se­gue à risca as orientações do marqueteiro João Santana.

O ministro do Desenvolvi­mento, Fernando Pimentel, é amigo de Dilma desde ajuventude, quando os dois militavam em organizações de extrema-esquerda, e tem muita influência sobre as opiniões dela. Na campanha, Pimentel dizia: "Dilma, você não tem que responder todas as per­guntas num quebra-queixo. Quando não quiser, desvie do assunto e faça um comentário simpático sobre o repórter". Até hoje ela segue o conselho.