Título: Petistas discutem a melhor resposta
Autor: Domingos, João ; Bergamasco, Débora
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/12/2012, Nacional, p. A6

O PT completa dez anos no po­der, em janeiro de 2013, com a antiga cúpula do partido conde­nada pelo Supremo Tribunal Federal e seu principal líder, Luiz Inácio Lula da Silva, fusti­gado por acusações segundo as quais deu "ok" ao esquema de pagamento de parlamentares, entre 2003 e 2005, e foi até bene­ficiado por ele. Diante do atual bombardeio, engrossado pela Operação Porto Seguro, que pôs na berlinda a ex-chefe do ga­binete presidencial em São Pau­lo, Rosemary Noronha, os petis­tas ainda não se entendem so­bre qual a melhor reação.

A direção nacional do partido já defendeu os condenados no julgamento do mensalão em dois documentos oficiais após as penas serem impostas pelo Su­premo. Em ambos os momen­tos, atribuiu a atual situação a movimentos conservadores. Na semana passada, o líder do PT na Câmara dos Deputados, Jilmar Tatto (SP) e o neoaliado senador Fernando Collor (PTB- AL) conseguiram aprovar, numa comissão do Congresso, convi­tes para que o ex-presidente Fer­nando Henrique Cardoso seja ouvido em casos de financiamen­tos supostamente ilegais de cam­panhas tucanas. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, responsável por acusar os mensaleiros no julgamento do STF, também será convidado a dar explicações. Segundo os pe­tistas, ele ignorou indícios obti­dos pela Operação Vegas da Polí­cia Federal que apontavam a es­treita ligação entre o senador cas­sado Demóstenes Torre (ex- DEM, hoje sem partido), que já foi um dos ícones da oposição, ao contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

Tatto afirma que o PT tem de dar uma resposta nas ruas. "Vamos mostrar que, enquanto tentam dar golpes em cima de golpes, nós estamos crescendo. Vence­mos três eleições seguidas para presidente e somos o partido mais querido. A crise da qual fa­lam é uma crise de papel, midiática. Porque a população mais po­bre está protegida e o índice de desemprego é o menor dos últi­mos tempos", afirma o petista, que, a partir de janeiro, ocupará a Secretaria Municipal dos Trans­portes do prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad (PT).

Explicação. O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), acredita que o partido precisa dar uma resposta à sociedade a respeito dos últimos acon­tecimentos. E isso se fará com muito trabalho tanto por parte do PT quanto do governo.

"Diria que a Polícia Federal, no governo do PT, tem liberdade para trabalhar e investigar quem quer que seja. Isso é importante. Isso tem que ser mostrado", afir­ma. Para ele, o que o PT tem de mostrar para a população é que não compactua com o erro, in­vestiga todos. "A luta política existe e é legítima. Então, o PT que crie seus mecanismos de de­fesa. Quanto mais evitar o malfei­to, mas fará sua parte."

O líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA), admite ser na­tural que um partido que tenha galgado a estrutura de poder so­fra ataques. "Partido nenhum é partido de santos, então todos os partidos, ao longo de suas trajetó­rias - não que seja correto - têm membros que vão cometendo er­ros e acertos." Segundo o líder, os ataques que pela primeira vez são abertamente direcionados ao ex-presidente Lula "não são pessoais contra ele, mas tenta-se manchar sua história para destruir o patri­mônio que ele construiu, que é o PT, já pensando em 2014".

O senador Humberto Costa (PE), citado por Valério no de­poimento à Procuradoria-Geral, acha que, apesar do momento difícil, a crise mais grave vivida pe­lo partido ocorreu em 2005, quando estouraram as primeiras denúncias sobre o mensalão e duas CPIs foram instaladas.

À época, em especial após o de­poimento do publicitário Duda Mendonça em que ele admitiu à CPI dos Correios ter recebido em contas no exterior, a oposição che­gou a pensar em impeachment. "Diziam que Lula não terminaria o mandato, que o PT estava destraído, mas ele foi reeleito, conseguiu fazer Dilma sua sucessora. Acho que, novamente, o partido terá ampla condição de restabele­cer sua imagem positiva com a po­pulação e Lula continuará com sua imagem inabalada."

A mesma linha de raciocínio tem o senador Lindbergh Farias (RJ), vice-líder do PT. "Tudo o fque está acontecendo não altera em nada a correlação de forças do partido com a sociedade, mesmo que muita gente torça para que al­tere." Lindbergh provoca os par­tidos oposicionistas: "Esta oposi­ção está tão fraquinha... Está sem projeto, está sem discurso. Estamos num momento muito confortável para a eleição presiden­cial. Podem bater. O nosso proje­to está muito consolidado".

Dilma Rousseff, segundo pesquisa CNI Ibope divulgada na sexta-feira, tem 78% de aprova­ção. Seu governo tem 62%.