Título: Grupo articulava ajuda a condenados do mensalão
Autor: Boghossian, Bruno ; Macedo, Fausto
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/12/2012, Nacional, p. A8

Interceptações telefônicas e de e-mails feitas entre junho e no­vembro de 2012 com autorização judicial revelam a proximidade do grupo investigado pela Opera­ção Porto Seguro com condena­dos no julgamento do mensalão.

Os diálogos, divulgados na edi­ção da revista Época deste fim de semana, integram relatório da Polícia Federal encaminhado pa­ra análise à Procuradoria-Geral da República, ao Supremo e ao Congresso, em que são citadas 18 autoridades dos três poderes com prerrogativas de foro.

Um dos grampos, captado em 12 de novembro, mostra a ex-che­fe do escritório da Presidência em São Paulo, Rosemary Noro­nha, discutindo com Paulo Viei­ra, ex-diretor da Agência Nacio­nal de Águas (ANA) acusado de chefiar a quadrilha, estratégias para "tumultuar" o julgamento.

O ex-ministro José Dirceu (Ca­sa Civil) é citado várias vezes nos diálogos. O deputado Valde- mar Costa Neto (PR-SP), tam­bém condenado no mensalão, aparece falando nos grampos.

Numa conversa, Vieira provo­ca Rose para que ela consiga a par­ticipação de "Deus" (a PF afirma que se trata do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva) nas articula­ções. "Não! Eu acho que (ele) não está a fim, não", diz Rose. Vieira lamenta: "É! Às vezes ele tem me­do de arrumar confusão, né?".

Aligação entre Rose e Vieira du­rou 11 minutos e o trecho mais esclarecedor revela que o ex-sena­dor Gilberto Miranda - acusado de corrupção ativa - e Valdemar participavam da tal articulação.

"Eu vou viajar com ele (Dirceu) no feriado. Nós vamos para a Ba­hia. Eu converso bastante com ele", diz Rose. "Ele não pode ficar preso dentro de casa, né! A vida corre. Eu falo com ele. Eu tive com ele no feriado, eu falo com ele."

Vieira pergunta, então, como está o ânimo de Dirceu. Rose diz: "Está bastante chateado. Estão preparando umas coisas. (...) É o Gilberto Miranda que está ajudan­do ele. Estão fazendo várias reu­niões na casa dele". Vieira dá a en­tender que sabia afundo do envol­vimento de Miranda na trama. "Is­so eu tenho mais ou menos ideia do que eles estão falando", diz.

Rose conta como ficou saben­do das articulações: "Ele (Dirceu) me disse... A mulher dele (de Dirceu, Evanise Santos) disse que eles têm reunião lá na casa dele (Mi­randa)".Vieira prossegue: "O Gil­berto Miranda é muito bem (sic) para articular, viu. (...) Não sabia que eles estavam apostando tan­tas fichas nessa questão, tá". "Pa­rece que "tão"", diz Rose.

Ainda conforme a revista, tele1 fonemas e e-mails captados in­cluídos no relatório da PF mos­tram que a quadrilha se preocupa­va com os rumos do julgamento antes mesmo que ele começasse. Em 10 de junho, dias depois que o cronograma do julgamento foi de­finido, os irmãos Paulo e Rubens Vieira (ex-diretor da AgênciaNacional de Aviação Civil), também de­nunciado, conversaram por 12 mi­nutos sobre o mensalão. Eles ten­tavam antever a posição de al­guns ministros e Vieira defende a transmissão das sessões ao vivo. "Sabe por quê? Os ministros vão explodir de vaidade, moço. Se um ministro explodir de vaidade, vai brigar um com outro. O ideal é isso aí, porque todo mundo já sa­be que o julgamento é político e que eles não vão sair de lá ilesos. Então, o negócio agora é tumul­tuar o processo", afirma.

O opositor PPS informou, em nota, que o relatório da Polícia Fe­deral reforça a necessidade de ins­talação da "CPI da Rosemary".