Título: Maduro vê derrota da burguesia em eleições regionais
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Fonte: O Estado de São Paulo, 18/12/2012, Internacional, p. A18

O povo libertou seus Estados do jugo da burguesia, discursa o vice, após os chavistas terem obtido 20 dos 23 governos estaduais

O vice-presidente venezuela­no, Nicolás Maduro, conside­rou ontem a conquista de 20 dos 23 Estados na eleição de do­mingo uma “derrota da burgue­sia”. Maduro prometeu “não abandonar” o povo de Miran­da, onde o opositor Henrique Gapriles venceu, fírmando-se como o nome da oposição em uma eventual presidencial - prevista caso Hugo Chávez não tome posse dia 10 de janeiro. Se­gundo o último boletim do go­verno, de domingo, Chávez “já dá instruções, já governa”.

“A votação foi uma grande vi­tória da revolução. Agradeço ao povo que liberou seus Estados do jugo da burguesia”, afirmou Maduro, que ainda acumula a função de chanceler, ao final de uma cerimônia de três horas em homenagem a Simon Bolívar, transmitida na íntegra em ca­deia nacional

Segundo analistas, o governo saiu fortalecido principalmente pela vitória em Zulia, considera­do um bastião da oposição. O chavismo coloriu de vermelho ainda Táchira, Garabobo e Nueva Esparta. “As maiores perdas da oposição foram Zulia e Táchi­ra. Nessa região do país, na fron­teira com a Colômbia, está a maior parte do contrabando e do tráfico de drogas. É uma parte onde a guerrilha das Farc atua e o governo tinha interesse em con­trolá-la", afirma Omar Noria, cientista político da Universida­de Simon Bolívar,

Embora não esteja entre os Estados mais ricos ou estrategicamente colocados, Miranda, que engloba parte de Caracas, con­centrou a atenção pela participação de Henrique Capriles derro­tado por Chávez na presiuencial de outubro- “Gapriles é o outro grande ven­cedor da eleição. Ele se mantém como o grande nome da oposi­ção, que começava a se dividir. O principal objetivo do governo era tirá-lo daí. Não conseguiu”, afirma Margarita López Maya, historiadora e cientista política da Universidade Central de Ve­nezuela. Com 52,2% dos votos, Capriles venceu o governista Elias Jaua, ex-vice presidente preterido por Chávez em outu­bro, que ficou com 47,62%. “Jaua passa a um segundo escalão en­tre os emergentes 110 processo de sucessão de Chávez”, acredi­ta Margarita,

Pressionado a falar sobre uma possível candidatura caso seja convocada nova votação para presidente, Capriles disse após a divulgação dos resultados que não “jogaria esse jogo” e desejou a recuperação de Chávez. :

Projeções. A votação de domin­go teve alta abstenção - só 54% dos venezuelanos participaram. Em uma disputa presidencial, es­pecialistas apostam em uma pre­sença maior dos eleitores.

As projeções sobre uma nova presidencial ganharam força de­pois que Chávez anunciou a quar­ta cirurgia em um ano e meio con­tra um câncer pélvico. A opera­ção, feita há uma semana, teve complicações em razão de um sangramento. Desde qunta-feira, os boletins médicos divulga­dos pelo governo têm apontado evolução “lenta e favorável”. Ca­so Chávez não possa tomar posse cabe ao presidente da Assembleia, Diosdado Cabello, chamar eleições em 30 dias. Se Chávez assumir e não puder concluir o mandato, a tarefa seria de Madu­ro, provavelmente o candidato chavista. “A Venezuela agora vai esquecer da política, para fazer festas e celebrar o Natal. Só vai se falar nisso em janeiro. Se o pre­sidente não estiver morto, pode até que esteja sedado, vai tomar posse”, opina o cientista político Carlos Romero, da Universida­de Central da Venezuela.