Título: Coalizão vai combater doença de Chagas
Autor: Formenti, Lígia
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/12/2012, Vida, p. A24

Médicos e associações de pacientes do mundo se unem para tornar mais rápido o diagnóstico e criar mecanismos para desenvolver novas drogas

Pesquisadores, médicos, associações de pacientes e organi­zações de saúde pública cria­ram uma coalizão para contro­lar a doença de Chagas. A ideia é concentrar esforços para tor­nar mais rápido o diagnóstico, criar mecanismos para avaliar a eficácia do tratamento e de­senvolver novas drogas con­tra a patologia - que afeta cer­ca de 10 milhões de pessoas. Apenas 0,2% dos infectados es­tá em tratamento.

"Engana-se quem pensa que é um problema do passado, um de­safio superado. E isso vale tam­bém para o Brasil", diz a coorde­nadora do Médicos Sem Frontei­ras no Brasil, Carolina Batista.

Embora tenha recebido a certi­ficação de interrupção da trans­missão domiciliar da doença em 2006 da Organização Mundial de Saúde, o Brasil tem cerca de 2 milhões de pacientes infecta­dos. A maior parte deles está sem diagnóstico e sem tratamen­to. Pelas projeções, o País deve fornecer em 2013 terapia para 800 pessoas. "A quantidade é in­significante. É preciso que médi­cos brasileiros façam o diagnósti­co da doença e, sobretudo, que indiquem o tratamento para os pacientes", defende o diretor executivo da Iniciativa Medica­mentos para Doenças Negligen­ciadas (DNDi), Eric Sohbaersts.

Até a década passada, o trata­mento para doença de Chagas, feito ao longo de dois meses, não era indicado para pacientes crô­nicos. A orientação mudou, mas raramente é colocada em práti­ca. Mesmo que tardia, afirmam os especialistas, a terapia pode reduzir o risco de o paciente de­senvolver problemas cardíacos; "Por desconhecimento ou resis­tência, essa oportunidade lhes é negada. São os negligenciados dentro do grupo de negligencia­dos", constata Carolina.

Até pouco tempo restrita a paí­ses da América Latina, a doença, com a globalização, também pas­sou a ser identificada em países desenvolvidos, como Austrália, Japão, Espanha e Estados Uni­dos. Nos países endêmicos, o pa­rasita Tripanossoma cruzi, causa­dor da doença, é transmitido so­bretudo por insetos conhecidos como barbeiros.

A transmissão pode ocorrer também por transfusão de san­gue ou transplantes de órgãos. No Brasil, exames de controle são feitos justamente para evitar esse risco. Mas, em países onde a doença é recente, o cuidado não existe. "Já há registros de casos de doença de Chagas provoca­das por transplantes e transfu­sões" diz Carolina. Os Estados Unidos ocupam a sétima posi­ção no ranking da doença.

"Novos desafios se somam a problemas que até agora não ti­nham sido resolvidos. Daí a im­portância da criação desse gru­po", avalia Sobbaersts. Entre as metas estão o desenvolvimento de um método de diagnóstico mais rápido e de ferramentas pa­ra avaliar se o paciente foi curado.

Atualmente, o tratamento é feito combenzonidazol. O remé­dio passou a ser produzido no Brasil pelo Laboratório Federal de Pernambuco, Falhas de abas­tecimento foram registradas em 2011, "O problema foi resolvido e a produção, normalizada. Atualmente, o País tem capacida­de para atender toda a deman­da", afirma o secretário de Ciên­cia e Tecnologia do Ministério da Saúde, Carlos Gadelha.