Título: Relatórios da Aneel e ONS apontam falhas graves e primárias em apagões
Autor: Mizzo, Alana ; Dantas, luri
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/12/2012, Economia, p. B1

Documentos obtidos pelo "Estado" revelam que os apagões dos 2 últimos anos foram provocados até por falta de para-raios nas linhas

Relatórios da Agência Nacio­nal de Energia Elétrica (Aneel) e do Operador Nacio­nal do Sistema (ONS) elétrico revelam que os apagões dos úl­timos dois anos no País foram provocados por falta de inves­timentos em estrutura, falha humana e ausência de equipa­mentos de proteção e de comu­nicação. Os documentos, obti­dos por meio da Lei de Acesso à Informação, indicam falhas "graves" e "primárias" no pla­nejamento das intervenções após a ocorrência do proble­ma e na análise dos riscos.

O Estado teve acesso a um conjunto de documentos que es­quadrinha o sistema elétrico. São relatórios, atas de reunião, ofícios, auditorias e fiscaliza­ções produzidos em 2011 e no iní­cio de 2012. Mesmo com todos esses documentos, que somam mais de 3 mil páginas, as interrup­ções no fornecimento de ener­gia elétrica continuam a ocorrer com frequência. No fim de sema­na, um apagão atingiu parte dos Estados de São Paulo, Rio de Ja­neiro e Minas Gerais. Integran­tes do governo minimizam as fa­lhas no sistema.

Em julho de 2011, um proble­ma nos equipamentos da Comis­são de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (CTEEP) pro­vocou um apagão que chegou a interromper a operação do me­trô de São Paulo. Um técnico da empresa seguiu todos os passos previstos no manual de opera­ções do equipamento de prote­ção. Mas em ordem inversa, co­meçando de trás para frente. Em outras palavras, houve "opera­ção indevida do sistema de prote­ção", na visão da Aneel.

"Não há razão para imputar à CTEEP qualquer culpa pela si­tuação vigente", discordou a concessionária em documento en­viado à agência.

Afinal, argumentou, os relés (equipamentos) eram moder­nos em 1990, quando foram ad­quiridos. Tratava-se, disse a em­presa, de um "envelhecimento precoce" do equipamento. A Aneel multou a concessionária em R$ 1,25 milhão.

Peça Velha. A Companhia Hi­drelétrica do São Francisco (Chesf) foi flagrada usando uma peça fabricada em 1969 e instala­da em 1975. Resultado: apagão em junho de 2011, nos Estados de Pernambuco e Bahia.

Furnas, por outro lado, deixou de investir na modernização de sistemas de proteção de várias linhas de transmissão estratégi­cas e o resultado foi um apagão em janeiro deste ano. A ordem para as obras imediatas e urgen­tes saiu no Diário Oficial da União em dezembro de 2006.

No Rio Grande do Sul, a equi­pe da Aneel teve dificuldades pa­ra analisar as causas de um apagão de quase sete horas no dia 4 de agosto do ano passado na Re­gião Central do Estado. Os regis­tradores falharam.

Também houve problemas na comunicação, que só foi restabe­lecida horas depois por um tele­fone celular, e as baterias que ali­mentavam os rádios comunica­dores também não funciona­vam. Os técnicos identificaram ainda operadores trabalhando sem qualquer certificação.

O apagão de 6 de setembro de 2011 entre Rio de Janeiro e Espirito Santo foi provocado por quei­madas na faixa de servidão das linhas de transmissão. A fisca­lização comprovou que não houve atuação do religamento automático por "problemas de incompatibilidade da pro­gramação" do sistema. Fumas alegou que o religamento não havia sido implantado por limitações impostas por para-raios.

Em dezembro de 2010, uma interrup­ção nas estações Grajaú e Jacarepaguá, no Rio, le­varam técnicos da Aneel a fiscali­zarem a ocorrência. O relatório mostra que o apagão foi provoca­do por uma "atuação acidental": técnicos cortaram um fio, que acabou provocando um curto cir­cuito. Após o incidente, houve recusa da atuação do Esquema de Controle de Emergência. Os técnicos pediram a aplicação de uma multa de R$ 6,9 bilhões. No entanto, Furnas recorreu à Justi­ça e o processo administrativo foi arquivado.

Em Manaus, a Eletrobrás Ama­zônia enfrentou três apagões no início deste ano. Todos causa­dos por raios. Em dois casos, hou­ve falha de manutenção. A Aneel propôs à estatal que era hora de "realizar estudos a fim de anali­sar os benefícios advindos (...) da instalação de para-raios de li­nha, tendo em vista a grande inci­dência de descargas atmosféri­cas na região".