Título: Para ONS, raio pode ter causado apagão
Autor: Gonçalves, Glauber
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/12/2012, Economia, p. B3

"Descarga atmosférica", segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico, é a causa mais provável para o blecaute de sábado em 12 Estados

O corte do abastecimento que deixou consumidores de 12 Es­tados sem energia no último sábado pode ter sido causado por um raio, afirmou ontem o diretor-geral do Operador Na­cional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Ghipp. "Eles (os técnicos) estão investigan­do, mas pode ter sido", disse, depois de informar que houve registros de "descargas atmos­féricas" naquele dia no local onde estão a hidrelétrica e a es­tação de Itumbiara, na divisa de Minas com Goiás.

Embora a investigação da ori­gem do problema ainda não te­nha sido concluída, o ONS expli­cou que ocorreu o desligamento de unidades geradoras da usina de Itumbiara, seguida pela inter­rupção da operação de uma linha de transmissão.

O sistema Sul-Sudeste estava recebendo 5 mil MW de energia transmitidos pelo sistema Norte-Nordeste-Centro Oeste quan­do um raio interrompeu a liga­ção entre os dois. Além disso, a queda na frequência acabou pro­vocando o desligamento de algu­mas térmicas.

A falta de energia, que na infor­mação inicial, divulgada no pró­prio sábado, atingira três Estados (São Paulo, Rio e Minas), teve uma abrangência quatro vezes maior, como informou ontem o ONS, estendendo-se por 12 Esta­dos das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte e somando 8.160 MW, o equivalente a 13,4% do total do consumo do País.

O ONS evita classificar o inci­dente como apagão. Para Chipp, o que houve foi um "desligamen­to seletivo de carga para evitar um apagão". "O desequilíbrio carga/geração com o desligamen­to das térmicas fez com que a fre­quência caísse. Com isso, o esquema regional de alívio de car­ga das regiões Sudeste e Sul atua­ram e desligaram cargas", expli­cou Ghipp.

Perguntado por jornalistas se o corte do último fim de semana seria um novo "apaguinho", ter­mo que usou para se referir ao blecaute que afetou em outubro parte das Regiões Sul, Sudeste e Gentro-Oeste do País, além dos Estados do Acre e Rondônia, Chipp afirmou preferir não repe­tir o termo. Ele afirmou que, na ocasião, parte de sua declaração foi cortada o que teria feito a palavra soar pejorativa.

O executivo confirmou que a configuração da usina de Itumbiara - e de outras construídas nos anos 70 e 80 em formato de anel - oferece mais risco para o sistema. Ele explicou que elas fo­ram projetadas com a finalidade de suprir carga radialmente. No caso de Itumbiara, a subestação acabou ganhando mais importância com o crescimento do sistema de transmissão.

"Precisa haver um trabalho de verificação, não só em Itumbiara, como em outras subestações, para ajustes de arranjos", decla­rou o diretor geral do ONS sobre a necessidade de modernização dessa estrutura. Chipp descar­tou, no entanto, que o incidente tenha sido causado por proble­mas de operação e manutenção.

Governo. O apagão que atingiu 12 Estados na noite do último sá­bado é mais um episódio de uma "sequência muito ruim" de per­turbações que atingiram o siste­ma interligado nacional, admi­tiu o secretário de Energia Elétri­ca do Ministério de Minas e Ener­gia, Ildo Grüdtner. Foi o sexto blecaute em menos de três me­ses registrado no País.

O secretário disse que o minis­tro Edison Lobão está "bastante incomodado" com a série de apagões que têm ocorrido no Brasil, mas explicou que não há como garantir que eles não aconte­çam. "Não é uma coincidência boa, mas não há nenhuma asso­ciação entre um e outro", afir­mou. "Estamos sujeitos a pertur­bações. Não gostamos que elas ocorram. Trabalhamos constan­temente para que isso não se re­pita, mas é impossível dizer que não. vai ocorrer", explicou. /

COLABOROU ANNE WARTH