Título: O perigo em duas rodas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/12/2012, Notas e informações, p. A3

Sete em cada dez in­denizações pagas nos últimos nove meses pelo Seguro Obrigatório de Da­nos Pessoais Causa­dos por Veículos Automotores (DPVAT) destinaram-se a víti­mas de acidentes com motos. Dados do Ministério da Saúde, divulgados em junho, mostra­ram que no primeiro semestre do ano 77.113 motociclistas fo­ram internados, o que represen­tou um custo de R$ 96 milhões ao sistema público de saúde.

Segundo estimativas do Denatran, o número de motos no País quadruplicou em uma dé­cada, passando de 5 milhões pa­ra 20 milhões, o que represen­ta 27% da frota nacional de veí­culos. São muito grandes as di­ficuldades para adequar a satu­rada malha viária a esse modo de transporte, o que favorece o aumento dos índices de violên­cia no trânsito. E a disputa ca­da vez mais acirrada por cada centímetro de asfalto prevale­ce sobre os esforços de cons­cientização de motoristas e motociclistas a respeito de uma conduta mais prudente.

Por morte, invalidez perma­nente ou reembolso de despe­sas médicas ou hospitalares de­correntes de acidentes de trân­sito, foram pagas 355.647 inde­nizações, entre janeiro e setem­bro, o que representa aumento de 39% em relação ao mesmo período do ano passado, num total de R$ 1,6 bilhão. O último levantamento do governo fede­ral mostra que em 2010 o nú­mero de mortos no trânsito chegou a 40.989.0 total de mo­tociclistas que perderam a vida em acidentes em todo o País chegou a 13.452, o que represen­ta 32,81% do total registrado. Nos últimos 15 anos, a taxa de mortalidade de quem dirige moto aumentou quase nove ve­zes. Enquanto a venda de mo­tos aumentou 559% entre 1996 e 2010, as mortes causadas por acidentes com esse veículo cresceram 1.358%, segundo es­tudo feito pela Volvo.

Em setembro, durante a Se­mana Nacional de Trânsito, o Denatran deu destaque a inicia­tivas específicas para os moto­ciclistas. O Conselho Nacional de Trânsito (Contran), por sua vez, instituiu no início de agos­to o treinamento obrigatório para motofretistas e mototaxistas. Campanhas educativas também foram desenvolvidas pelos governos em vários Esta­dos e municípios. O elevado número de acidentes com mor­te, porém, indica que ainda há muito a fazer.

É preciso adotar medidas destinadas a melhorar a educa­ção e a capacitação de conduto­res. Intensificar os treinamen­tos de pilotagem defensiva e tornar mais efetivos os proces­sos de reciclagem para infrato­res são também ações reco­mendadas pelos especialistas em segurança no trânsito. A is­so deveriam se somar uma fis­calização mais rigorosa e o de­senvolvimento da engenharia de tráfego, para facilitar a circu­lação de motos - os guardrails utilizados em avenidas de gran­de movimento e estradas brasi­leiras, por exemplo, são respon­sáveis por mais de 15% das mor­tes em acidentes com motos por causa dos ferimentos pro­vocados nos motociclistas que se chocam ou são lançados con­tra essas estruturas.

Desenvolver a cultura da se­gurança no trânsito, desde a pré-escola, é tão importante quanto a inclusão dos empresá­rios do setor de motofrete e mototáxi e seus clientes entre os protagonistas desse esforço.

A Lei 12.009/2009 regula­mentou as profissões de moto-boys, mototaxistas e moto­fretistas, mas deixou para os municípios a tarefa de estabele­cer as normas destinadas a orientar a atuação desses pro­fissionais, além de fiscalizar o trabalho da categoria, para coi­bir o desrespeito aos padrões de segurança. Em São Paulo, que concentra a maior frota do País, há décadas se espera pela disciplina dessas atividades. A exemplo do que ocorre em ou­tros municípios, sempre que se tenta estabelecer regras, a categoria promove protestos na capital paulista. E, por me­do do desgaste eleitoral, os po­líticos recuam.

Segundo dados do Ministé­rio da Saúde, aproximadamen­te 40% dos óbitos de motoci­clistas ocorrem na faixa etária de 20 a 29 anos. O porcentual sobe para 62% na faixa amplia­da de 20 a 39 anos e chega a 88%, na de 15 a 49 anos. Quase 90% são homens.

É preciso colocar em prática, com urgência, medidas capa­zes de reduzir essa matança.