Título: Residência com painel de energia solar terá desconto na conta de luz
Autor: Deiro, Bruno
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/12/2012, Vida, p. A15

Ambiente. Resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica que entra em vigor hoje estimula a microprodução de energia ao permitir que consumidor que tenha painel solar ou gerador eólico em casa reivindique sua integração à rede elétrica comum

A partir de hoje, o consumidor disposto a produzir a própria energia em casa no País terá respaldo legal para reivindi­car sua integração à rede elé­trica comum. Com a promes­sa de reduzir custos na conta de luz dos interessados, a nor­ma da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) é a aposta do mercado de energia solar para impulsionar o se­tor, que ainda esbarra no alto custo dos equipamentos.

A expectativa é de que em 2013 a ampliação nas vendas de pai­néis fotovoltaicos reduza os gas­tos com a instalação - atualmen­te, o sistema completo custa, em média, R$ 25 mil. "Nos últimos três anos, o preço caiu pela meta­de. Com a comercialização em escala, a tendência é que dimi­nua ainda mais nos próximos anos", diz Luis Felipe Lima, pro­prietário da Minha Gasa Solar.

A empresa de Lima, como a maioria em atividade, é especiali­zada em fornecer painéis para ca­sas situadas em áreas rurais, que usam baterias para armazenar a energia produzida. Com a nova regulamentação, abre-se a possibilidade de que a geração de ener­gia seja absorvida nas cidades pe­la rede elétrica, em um sistema de compensação. "Durante o dia, com um consumo normal­mente reduzido de eletricidade, a residência será fornecedora da rede", explica Lima.

A ideia é que, no fim do mês, a soma da energia enviada para a rede seja equivalente à quantida­de consumida. O valor pago na conta de luz será apenas a dife­rença - caso haja excedente, a energia produzida a mais será usada como crédito nos meses seguintes. As regras, porém, fi­cam a critério da concessionária.

A AES Eletropaulo, principal distribuidora da capital paulista, determina que esses créditos se­jam usados em até36 meses. Des­sa forma, períodos de muito sol fornecem créditos para serem usados em época de pouca gera­ção. A empresa afirma que come­çou a atender os pedidos de aces­so dos clientes desde sábado.

Com as diretrizes definidas, o setor espera agora facilidades pa­ra atrair interessados. "A regula­mentação foi um passo funda­mental, mas temos de pensar em incentivos a financiamento dos equipamentos e políticas de atra­ção de fabricantes para o País", diz Ricardo Baitelo, coordena­dor da campanha Clima e Ener­gia do Greenpeace.

Tecnologia nacional. Todos os equipamentos para a produção de energia solar são importados. Professor da Universidade Esta­dual Paulista (Unesp), o enge­nheiro eletricista Marcelo Villal­va desenvolveu em seu projeto de doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) o primeiro inversor eletrônico nacional para siste­mas fotovoltaicos conectados à rede elétrica. O aparelho injeta na rede a energia produzida pe­las placas e permite o uso simul­tâneo dos dois sistemas.

Ele explica que, no exterior, a autoprodução de energia resi­dencial é feita em larga escala. "Na Itália, Alemanha e Inglater­ra, há subsídios financeiros para quem produz energia limpa. Em alguns Estados americanos, o sis­tema de crédito de energia já é realidade há muito tempo", afir­ma Villalva. "O que se espera é que no Brasil, com o grande po­tencial natural que tem esse sis­tema, enfim, deslanche."

Ele estima que o medidor digital para a geração em residências, que será vendido pelas concessionárias, deverá custar en­tre R$ 200 e R$ 300. "Uma casa normal, de duas pessoas, consome em torno de 250 quilowatts hora por mês e precisaria de meia dúzia de painéis, com um custo de cerca de R$16 mil" calcula Villalva. "Em São Paulo, le­varia cerca de oito anos para amortizar o investimento. No in­terior e outros Estados do Brasil, com maiores níveis de insola­ção, pode chegar até a três anos."