Título: Centrais reclamam de falta de diálogo e endurecem discurso contra governo
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/12/2012, Economia, p. B1

Sindicalistas queixam-se de que não são recebidos pela presidente Dilma Rousseff, que "só atende às reivindicações dos empresários"

A falta de diálogo fez azedar a lua de mel de dois anos da pre­sidente Dilma Rousseff com o movimento sindical. A Cen­tral Única dos Trabalhadores (CUT) e a Força Sindical, am­bas da base de apoio ao gover­no, prometem sair às ruas e en­durecer o discurso contra o tratamento recebido pela ad­ministração Dilma, que, segun­do as duas maiores centrais sindicais do País, "até agora não levou em consideração a pauta de reivindicações da classe trabalhadora".

Os sindicalistas estão revolta­dos por não receberem da presi­dente o mesmo tratamento da­do aos empresários. "Para nós, a crise econômica internacional serve de desculpa para o gover­no engavetar todas as propos­tas", argumenta Wagner Freitas, presidente da CUT. "Já para os empresários, serve para atender várias reivindicações."

Os trabalhadores querem o fim do fator previdenciário, isen­ção do Imposto de Renda na Par­ticipação nos Lucros e Resulta­dos (PLR), redução da jornada de 44 para 40 horas semanais sem redução salarial, valoriza­ção das aposentadorias e aumen­to para o servidor público, entre outras medidas. "Toda essa pau­ta está na geladeira", diz Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, pre­sidente da Força Sindical e depu­tado federal (PDT-SP).

Para o assessor especial da Secretaria-geral da Presidência da República, José Lopez Feijoo, "o discurso das centrais faz parte de um processo de pressão, que eu entendo como legítimo, mas que não é a realidade".

Os sindicalistas se queixam de não serem recebidos pela presi­dente Dilma, numa situação in­versa à do empresariado. Eles di­zem que, quando há muitas recla­mações, o governo se apressa em marcar reunião das centrais com o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, "que não apresenta propostas, só tenta acalmar os representan­tes dos trabalhadores".

"Ninguém quer mais reunião com quem não decide, só para ouvir que a crise está brava, en­quanto o empresariado se reúne com a presidente e com o minis­tro da Fazenda, Guido Mantega", compara Paulinho.

Queixa. Desde a sua posse, no dia 13 de julho, a nova diretoria da CUT não foi recebida pela presidente da República. Na época, Freitas solicitou uma audiência com Dilma para apresentar a exe­cutiva da CUT e reforçar a pauta da classe trabalhadora. Até hoje, ele não recebeu resposta oficial, só a promessa de que poderia ser recebido em fevereiro ou março do ano que vem.

O sindicalista disse que ficou muito surpreso quando, há pou­co mais de uma semana, a Confe­deração Nacional da Indústria (CNI) foi recebida por Dilma pa­ra entregar um documento com 101 propostas de mudanças na legislação trabalhista, "em sua grande maioria desfavoráveis aos trabalhadores". Dilma teria ficado muito interessada e pediu três exemplares do documento.

Embora divirja das posições da CNI, Freitas reconhece que a entidade tem o direito de fazer as reivindicações que achar ne­cessário. Não admite, porém, que a representação formal do empresariado seja recebida e a dos trabalhadores, não.

"Queremos ter a possibilida­de de apresentar também a nos­sa pauta sobre temas parecidos, até porque temos um viés com­pletamente diferente dos empre­sários."

Governo do patronato. Pauli­nho, da Força Sindical, vai além e diz que "o governo hoje é do pa­tronato, não tem nada mais a ver com o trabalhador". Desde o iní­cio da crise, em 2008, mais de 40 setores da economia foram beneficiados com medidas de estímu­lo, como redução do IPI, desone­ração de folha de pagamento e financiamento mais barato.

"Todo esse esforço, que teve um custo para o País, beneficiou indiretamente o trabalhador, mas beneficiou muito mais o em­presariado, diretamente", diz Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. "O Imposto de Renda na Participação nos Lucros e Re­sultados (PLR) era o mínimo que a presidente poderia fazer, mas nem isso ela fez."

Assim não dá

WAGNER FREITAS

PRESIDENTE DA CUT "Para nós, a crise econômica internacional serve de desculpa para o governo engavetar todas as propostas. Já para os empresários, serve para atender várias reivindicações."