Título: Negócios internos
Autor: Recondo, Felipe ; Rízzo, Alana
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/12/2012, Nacional, p. A6

O antropólogo Roberto Da Matta faz uma indagação precisa no fecho de seu ar­tigo ontem no Estado: É o jornai que forma a quadrilha ou é a quadrilha que faz a notícia do jornal?

Desde Roberto Jefferson e seu re­vide que virou processo e resultou em condenações, todas as agruras vividas pelo governo foram produ­zidas no departamento de negócios internos e em si já desmoralizam o velho truque de culpar o mensagei­ro pelo desagradável conteúdo da mensagem.

Desnecessário repetir a lista longa e sobejamente conhecida de exem­plos. À imprensa como culpada por tudo que de ruim envolve o nome do PT e adjacências, juntou-se agora o Supre­mo Tribunal Federal a compor o que genericamente é denominado de "eli­tes" movidas pelo ódio.

Ontem Lula se pronunciou mais lon­gamente na posse do novo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC desde os últimos acontecimentos envol­vendo o nome dele.

Como sempre, não tocou no essen­cial, preferindo atacar um sujeito ocul­to desta vez chamado de "Vagabundo", e anunciar que volta com força total à política em 2013.

Refugiou-se no palanque, sua zona de conforto. O "Vagabundo" supõe-se que seja Marcos Valério, que não é jornalis­ta nem ministro do Supremo, mas facili- tador dos empréstimos fraudulentos ao PT e guia da antiga cúpula do partido pelas veredas da corrupção na adminis­tração federal.

A outra personagem "da hora", Ro-semary Noronha, não foi posta na che­fia da representação da Presidência da República; por iniciativa de algum chefe de redação ou magistrado mal intencionado,

Foi de Lula a indicação e a responsabi­lidade sobre a manutenção da moça hoje indiciada por corrupção, tráfico de in­fluência, peculato e formação de quadri­lha. Dessa e de outras que fizeram notí­cia e por isso foram parar nos jornais.

Aos veículos de comunicação se atri­bui culpa por fazer jus à função de comu­nicar os acontecimentos. Ao STF impu­tam-se acusações de arbitrariedade por cumprir seu papel de árbitro maior dalei.

Tudo dentro dos conformes, mas o PT se revolta e agora propõe duas refor­mas: uma que enquadre a imprensa à concepção propagandística que partido e governo têm do jornalismo- já explicitada na proposta da criação do tal de "controle social da mídia" - e outra que "pegue" o Judiciário tido como "conservador" - sugestão ainda não detalhada por seus autores.

Nenhuma das duas propostas tem chance de prosperar, por contrárias à ordem democrática. Resta, então, uma única e definitiva saída para que se ame­nizem as críticas: a redução substancial na produção de escândalos.

Se no lugar de reclamar do alheio o PT, Lula, governo e companhia juntas­sem esforços numa chamada geral em prol da legalidade e da boa conduta, as "elites" não teriam matéria-prima. E ainda cairiam no ridículo se caçassem fantasmas ao meio-dia como fazem o PT, Lula governo e companhia,

Coisa feita. Advogados dos conde­nados não têm apenas como certo que o presidente do Supremo, Joa­quim Barbosa, decretará a prisão ime­diata de seus clientes no período de recesso da Corte.

Suspeitam fortemente de que já esteja tudo combinado entre Barbo­sa e o procurador-geral, Roberto Gurgel, porque ele não apresentou o pedido ao plenário alegando a ne­cessidade de fundamentar melhor a solicitação.

De fábrica. Há algo de errado quan­do o Palácio do Planalto decide quem será o líder do PMDB na Câmara dos Deputados.

Há algo de mais errado ainda quando o presidente e o líder do partido, Michel Temer e Henrique Eduardo Alves, aceitam de bom gra­do a ingerência.

Se o governo interfere porque o preferido da bancada não é flor que se cheire, o defeito de origem é do partido.