Título: Esquema pagou dupla sertaneja e Nizan, diz operador
Autor: Recondo, Felipe ; Rízzo, Alana
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/12/2012, Nacional, p. A6

Fausto Macedo

O empresário Marcos Vaiério Fernandes de Souza, condena­do a mais de 40 anos de prisão por operar o mensalão, afirmou em seu depoimento à Procura­doria Geral da República em 24 de setembro que dinheiro do es­quema também foi usado para pagar a dupla sertaneja Zezé Di Camargo e Luciano, além do pu­blicitário Nizan Guanaes.

As operações teriam ocorrido em 2005. Além de terem sido garotos-propaganda de Luiz Iná­cio Lula da Silva na campanha presidencial de 2002, os músi­cos também trabalharam em campanhas petistas em 2004. Nesse mesmo ano Nizan coman­dou a campanha derrotada de Jorge Bittar (PT) à prefeitura do Rio - dois anos antes, tinha sido o marqueteiro de José Serra na derrota pela disputa ao Planalto.

O publicitário e adupla sertane­ja negam ter recebido qualquer pagamento de forma ilegal.

O Estado teve acesso com ex­clusividade ao conteúdo do depoi­mento no início da semana passa­da. Nele, o operador do mensalão acusa Lula de ter sido beneficiado pelo esquema e diz que o ex-presi­dente deu "ok" para os empréstimos que irrigariam o esquema, en­tre diversas outras denúncias.

Nesta semana, o Estado con­firmou com fontes ligadas ao processo que Vaiério entregou, naquele mesmo dia 24 de setem­bro, o número de três contas ban­cárias no exterior que afirma te­rem como beneficiários Nizan, a dupla sertaneja e também Duda Mendonça. Não seria a mesma conta nos EUA na qual o marque­teiro de Lula em 2002 admitiu receber quase R$ 11 milhões - o publicitário foi absolvido pelo Supremo no julgamento do mensalão após ser acusado de evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

Duda trabalhou com petistas também no ano de 2004. 0 publicitário nega a existência de uma segunda conta no exterior.

Ontem, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, con­firmou o recebimento de docu­mentos e depósitos entregues por Vaiério, mas não especificou sobre o que eles tratavam.

Segundo a versão de Vaiério, o dinheiro que ele diz ter ido parar nas contas dos publicitários e dos músicos saiu de um suposto acer­to que, conforme afirmou ao Mi­nistério Público, teria ocorrido em 2003 no gabinete presidencial, numa reunião entre Lula, o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e o então presidente da Por­tugal Telecom, Miguel Horta.

O empresário afirmou no depoi­mento de 24 de setembro que uma fornecedora da Portugal Telecom em Macau, na China, arrumaria cerca de R$ 7 milhões para o PT pagar dívidas de campanha suas e de aliados. Esse dinheiro seria usa­do, segundo as acusações de Valério, dois anos depois para pagar Ni­zan, Duda e Zezé Di Camargo e Lu­ciano. Naquele mesmo 2005, Valério chegou a viajar para Portugal acompanhado de Rogério Tolentino, seu ex-advogado e sócio, e do dirigente do PTB Emerson Palmieri - a viagem, afirmou o deputado cassado Roberto Jefferson ainda em 2005, serviu para "liberar" o dinheiro da Portugal Telecom.

Lula afirmou na semana passa­da que não responderia às acusa­ções de Valério por se tratarem de "mentira". O criminalista Jo­sé Roberto Batochio, advogado de Palocci, também negou que seu cliente tenha participado das reuniões no Planalto citadas pelo empresário mineiro à Procuradoria-Geral da República.