Título: FHC pede julgamento do mensalão mineiro
Autor: Gallo, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/12/2012, Nacional, p. A8

Ex-presidente afirma que fundamento da democracia é a igualdade e critica o fato de a análise do mensalão ter "quase paralisado" o País

O ex-presidente Fernando Hen­rique Cardoso defendeu ontem que o Supremo Tribunal Federal inicie o julgamento do chamado mensalão mineiro, suposto es­quema de financiamento ilegal da campanha à reeleição do en­tão governador Eduardo Azere­do (PSDB). FHC criticou o fato de o processo do mensalão do PT, concluído nesta semana, ter paralisado o País. Para o ex-presi­dente, isso mostra que ainda não existe "um sentimento efetivo do respeito à lei" no Brasil.

"O Brasil ficou quase paralisado frente a um julgamento quando deveria ser uma coisa normal. Por quê? É que tem graúdos aí sendo julgados. O que mostra que é inusitado. Um país que ain­da tem pouco respeito a igualda­de, pelo menos perante a lei, não dá. O fundamento da democra­cia é a igualdade", afirmou o ex- presidente, em discurso na Asso­ciação Comercial do Rio.

Questionado se essa crítica se estendia ao fato de ainda não ter sido julgado o mensalão minei­ro, FHC disse que suas declara­ções valem para todos. "Isso vale para todos. Não sou uma pessoa de ficar... Está ou não errado? Não sou juiz. Não sei. Tem que julgar e julgar rápido", afirmou.

O ex-presidente também dis­parou críticas contra o Congres­so, a CPI do Cachoeira e correli­gionários. Para ele, o Brasil preci­sa passar por uma "sacudida for­te" e é necessário iniciar um mo­vimento para se construir um país decente.

"Estamos todos vendo que o rei está nu. E temos medo de di­zer que o rei está nu. Um dia o povo vai dizer que o rei está nu e nos enganou. Não vamos nos en­ganar mais, vamos falar com franqueza, com sinceridade, e as­sim vamos ajudar a conduzir um Brasil melhor para todos nós", disse FHC, ao fim do discurso.

Posteriormente, ele negou que estava se referindo ao ex-pre­sidente Luiz Inácio Lula da Silva, alvo de mais uma série de denún­cias nas últimas semanas. "Eu não faço insinuações. Quando eu digo, eu digo. Já escrevi uma vez sobre o Lula um artigo com esse título (O Rei Está Nu), mas , não foi agora. Faz oito anos. Ago­ra eu disse metaforicamente. As coisas estão erradas e todos nós estamos vendo. Não foi pessoai", afirmou FHC.

Ao analisar a maneira como o poder público vem conduzindo questões importantes para toda a sociedade, o ex-presidente comparou o momento atual com o período da ditadura militar: "Estamos vivendo de novo como se vivia nos anos 70. Projeto im­pacto. O governo decide, publica e acabou", criticou o ex-presiden­te, citando a importância dé se debater temas nacionais e dando como exemplo a questão dos royalties do petróleo.

"Falsa crise". FHC disse consi­derar falsa a crise entre o Congresso e o STF, por conta da cassa­ção dos mandatos de deputados condenados no mensalão e ques­tões referentes aos royalties.

"Não há crise nenhuma. Tudo é uma questão de interpretação. Uma vez que o Supremo toma a decisão de suspender os direitos políticos, não há como a pessoa exercê-lo", afirmou. "Agora, eu en­tendo que se informa à Câmara, que deverá tomar uma decisão for­mal de levar adianta a execução do caso. Fora disso, acho que é uma tempestade em copo d"água."

O ex-presidente também ma­nifestou contrariedade em rela­ção ao correligionário Teotônio Vilela Filho, governador de Ala­goas, que integrou anteontem um grupo de chefes de Executi­vos estaduais que foram a São Paulo prestar apoio a Lula.

Também sobrou crítica indire­ta ao governador de Goiás, Marconi Perillo, e à bancada tucana no Congresso. FHC reclamava de "um vazio" do Congresso no exercício do poder e na atuação de fiscalização ao Poder Executi­vo. Neste caso, citou o fracasso da CPI do Cachoeira.

"Veja o caso desta CPI, não es­tou de acordo com o que houve. Não tenho por que me solidari­zar com erro, mesmo do meu par­tido", disse.