Título: Vagabundo não me derrotará, diz Lula
Autor: Gallo, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/12/2012, Nacional, p. A8

Uma semana depois de virem àtona as acusações do empre­sário Marcos Valério de que di­nheiro do mensalão foi usado para pagar "gastos pessoais" seus, o ex-presidente Luiz Iná­cio Lula da Silva afirmou que o que "mais machuca" seus ad­versários é o "sucesso" dele e disse que não será derrotado por algum "vagabundo em uma sala com ar condiciona­do". Lula pediu ainda que a mi­litância que o defende "não se preocupe com os ataques" que ele vem sofrendo.

Lula não comentou as acusa­ções nem abordou o tema do mensalão, mas fez sua fala mais reativa desde a segunda-feira passada, quando o Estado reve­lou o teor do depoimento de Va­lério à Procuradoria-Geral da Re­pública no qual sustentou que pa­gou R$ 98,5 mil para "gastos pes­soais do presidente". Há uma se­mana, Lula afirmou se tratar de "mentira", mas nada mais disse.

Ontem, contudo, veio à carga. "O que mais machuca os meus adversários é o meu sucesso", afirmou durante aposse do novo presidente do Sindicato dos Me­talúrgicos do ABC, Rafael Mar­ques. "Agente aqui no sindicato, quando queria falar mal do pa­trão, falava mal da Volkswagen, da Mercedes e da Ford? Porque eram as três maiores. Ninguém ia falar de fabriquinha".

O ex-presidente também dis­se existir apenas "uma possibili­dade de eles me derrotarem". "É trabalhar mais que eu. Mas se fi­car um vagabundo numa sala com ar condicionado falando mal de mim, vai perder"

Lula indicou entender que os "ataques" contra ele tem motiva­ção eleitoral. "Não se preocu­pem com os ataques. Há uma ra­zão para isso. Em 2010, quando apresentamos a Dilma, a Dilma era um poste. Vencemos. Agora quando apresentamos o Femando Haddad, era outro poste. Vencemos. E de poste em poste a gente está iluminando o Brasil".

O ex-presidente afirmou que em 2013 voltará a viajar o país fazendo política. "Ano que vem voltarei, para a alegria de muitos e tristeza de poucos, a andar por essepaís. Vou voltar a andar pelo Brasil porque acho que ainda te­mos muita coisa para fazer. Te­mos que ajudar a presidente Dilma a governar e conseguir ou­tros Estados e prefeituras".

Judiciário. As críticas que Lula deixou de fazer ao julgamento do mensalão foram proferidas por sindicalistas e dirigentes de movimentos sociais. O presiden­te da Central Única dos Traba­lhadores (CUT), Vagner Freitas, fustigou ministros do Supremo Tribunal Federal.

"O que se está querendo construir é um golpe, com meia dúzia de pessoas do poder Judiciário querendo mudar a realidade em um poder em que o povo não es­tá representado", disse. "A elite percebeu que não consegue ganhar as eleições, entoa resolveu mudar as regras do jogo. Vai jogar no tapetão, no poder judiciá­rio, Não vamos concordar com isso". Ele afirmou que a central irá às ruas caso "queiram colocar a democracia em jogo".

Integrante da coordenação na­cional do Movimento dos Sem Terra (MST), Gilmar Mauro de­clarou que os movimentos so­ciais precisam estabelecer "uma pauta de luta" que trate do Judi­ciário, segundo ele "intocável nesse nosso país". "No Pontal do Paranapanema e em muitas regiões do Estado sofremos condenações pela tese do domínio do fato. Conseguimos derrubar no STJ muitas delas. Agora é o STF que garante isso. Basta que se diga que alguém tem o domí­nio do fato pra ser condenado".

O presidente da União Nacio­nal dos Estudantes (UNE), Da­niel Iliescu, declarou que no iní­cio de 2013 os movimentos so­ciais vão às ruas. "As lutas que o movimento social vai convocar em fevereiro, março do ano que vem, vão encher as ruas desse país. Vamos fazer avançar o nos­so projeto e contribuir com a pressão das ruas".

Ele afirmou que os partidos e entidades de esquerda estão prontos para defender Lula e seu legado. "A UNE, ao lado das centrais, do MST, dos partidos de esquerda, topam toda e qual­. quer parada ombro a ombro para defender esse projeto que tem o Lula como figura central".