Título: Direção da Câmara pede cassação de tucano
Autor: Bresciani, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/12/2012, Nacional, p. A11

Um dia depois do encerramen­to dos trabalhos da CPI do Ca­choeira, que terminou sem ne­nhum indiciamento, a Mesa Di­retora da Câmara dos Deputa­dos decidiu ontem encami­nhar ao Conselho de Ética da Casa um pedido de cassação do mandato de Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) por envolvi­mento com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. O relatório do deputado Jerônimo Goergen (PP-RS), feito na comissão de sindicância da Corregedoria, foi aprovado por unanimi­dade pelo comando da Casa.

Leréia é amigo pessoal de Ca­choeira. Para Goergen, porém, o envolvimento é, também, "de ne­gócios". "A relação dele é acima da amizade, é uma relação de ga­nhos e intimidade que não se compatibiliza com o mandato parlamentar", disse o deputado gaúcho. Ele afirmou ver seme­lhanças com o caso de Demóstenes Torres (ex-DEM), cassado pelo Senado por seu envolvimen­to com o contraventor. "A dife­rença com o Demóstenes é só que o Leréia nunca mentiu sobre sua relação com o Cachoeira."

O relator do processo de Leréia observou como elementos de que­bra de decoro o fato de o deputa­do ter avisado o contraventor so­bre investigações, ser sócio dele na posse de um avião e usar um telefone celular dadoporCachoeira para tentar fugir de grampos. Em sua defesa, Leréia tem susten­tado que a relação com o contra­ventor é apenas de amizade.

"Réu confesso". O encaminha­mento do pedido de cassação foi aprovado por unanimidade. Al­guns parlamentares chegaram a chamar Leréia dé "réu confesso" por ele ter reiteradamente assu­mido sua relação com Cachoei­ra, inclusive discursando na tri­buna em defesa do amigo en­quanto ele estava preso.

Com o fim dos trabalhos no Congresso, Leréia só começará a ser processado no próximo ano. Apesar da recomendação pela cassação já constar do relatório da comissão de sindicância da Corregedoria, o Conselho de Éti­ca poderá optar por aplicar uma pena alternativa como advertên­cia ou suspensão. A decisão fi­nal, porém, é do plenário.

Apesar da unanimidade na Me­sa, Goergen admite serem peque­nas as chances de o processo le­var a uma cassação no plenário. Ainda que o Conselho de Ética respalde o parecer pela perda do mandato, a votação fmal tem a proteção do voto secreto.

Além de encaminhar o caso pa­ra o Conselho, a Mesa concor­dou com o arquivamento dos processos contra os outros depu­tados citados no esquema: Sandes Júnior (PP-GO), Rubens Ottoni (PT-GO) e Stepan Necers- sian (PPS-RJ), mencionados no âmbito da Operação Monte Car­io da Polícia Federal.

O processo contra Leréia é o único desdobramento das de­núncias de envolvimento de polí­ticos com o contraventor que ainda continua no Congresso.