Título: Governo aposta, em 2013, nas medidas de 2012
Autor: Villaverde, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/2012, Economia, p. B10

Alta de 3%, prevista por Dilma para 2013, será sustentada pela enxurrada de estímulos, pacotes e reformas anunciadas em 2012

A grande aposta do governo federal para garantir um crescimento mais robusto da economia no ano novo é a entrada em vigor das principais medidas tomadas ao longo do ano velho. A presidente Dilma Rousseff está convicta de que o Produto Interno Bruto (PIB) terá em 2013 o melhor ano de seu mandato, e que a alta, de no mínimo 3%, será sustentada justamente pela profusão de estímulos, pacotes e reformas anunciadas em 2012.

As férias, para os economistas do governo, ainda não começaram. Na semana passada, o Palácio do Planalto fez chegar às autoridades do setor aeroportuário em Brasília (Anac, Infraero e Secretaria de Aviação Civil) que a concessão de grandes aeroportos à iniciativa privada e o pacote de medidas voltado aos aeroportos regionais - pelo qual o governo quer elevar dos atuais 136 terminais para mais de 200 em quatro anos - devem sair ainda neste mês.

Os esforços de todos os técnicos e autoridades do governo federal estão concentrados, há um ano, no estímulo da economia, e dos investimentos em especial. O primeiro pacote de medidas veio em dezembro de 2011. À época, o esforço era garantir que o PIB em 2011 aumentasse ao menos 3% e que 2012 já fosse iniciado com um ritmo acelerado, de forma a atingir alta de 5%.

Atualização. Depois da surpresa com os resultados fracos da economia no terceiro trimestre deste ano, os economistas do governo atualizaram os cenários para 2013. Dilma recebeu de Mantega, na semana passada, uma estimativa "realista" para o PIB do ano que vem, que teria avanço de 3,1% - essa taxa será obtida, entende o governo, com o efeito pleno das diversas medidas tomadas ao longo de 2012.

No Planalto e no Ministério da Fazenda, o crescimento do ano que vem terá dois eixos principais, criados ao longo dos últimos 12 meses. O primeiro é o novo regime automotivo, que entra em vigor em janeiro condicionando incentivos tributários a investimento em tecnologia nacional por parte das montadoras. O segundo é a redução da conta de luz, que começa em março.

"No momento em que as famílias e as empresas pagarem uma tarifa de energia elétrica 20% em média mais barata do que pagam hoje, a resposta na economia será imediata", afirma uma fonte da equipe econômica. "As famílias terão maior conforto para consumir mais e as empresas terão mais capital para investimentos e contratação", resume.

Na visão do governo, o impulso do setor automobilístico, cuja cadeia produtiva representa 23% de toda a indústria de transformação nacional, somado a uma forte redução nos custos de produção, com o barateamento da conta de luz, vão fazer a produção industrial mudar de sinal entre 2012 e 2013. Neste ano, as fábricas derrubaram sua produção em 2,9% nos primeiros 10 meses.

Inevitável. Para a equipe econômica, o crescimento do PIB em 2013 é inevitável. Ele poderá ser mais ou menos robusto de acordo com a evolução dos investimentos - públicos e privados. Este é o objetivo central do governo: a economia pode até não crescer tanto no ano que vem, mas ela deve, obrigatoriamente, ser puxada pelos investimentos.

Desta forma, o ano de 2013 será de aceleração para 2014.

Para fazer deslanchar os investimentos do setor privado, a lógica do governo é a seguinte: as condições para isso foram dadas pelas medidas tomadas em 2012, como a desoneração da folha de pagamentos (que será mais uma vez ampliada em 2013) e, na outra ponta, pela redução dos custos financeiros. A taxa básica de juros, a Selic, está em patamar mínimo histórico (7,25% ao ano), o que puxou para baixo os juros de boa parte do sistema financeiro, a começar pelos bancos públicos.

Do lado do governo federal, entendem os técnicos da equipe econômica, cabe liberar mais recursos para cumprir as despesas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Obras importantes para destravar os investimentos privados, como as das Ferrovias Norte-Sul (FNS), Nova Transnordestina e de Integração Oeste-Leste (FIOL), estarão ainda mais próximas do prazo máximo para sua conclusão, em 2014. Por isso, mais dinheiro será liberado nesses canteiros.

Finalmente, o governo deve ainda conceder um reajuste de quase 10% no preço da gasolina, o que vai permitir à Petrobrás uma ampliação de receita capaz de cumprir a pesada carga de investimentos esperados.

"O empresário tem diante de si, também, uma taxa de câmbio muito mais favorável", afirma uma autoridade do Planalto, para quem o ano de 2012 foi "de arrumação", enquanto o de 2013 será o do investimento.

Questionado sobre qual seria a marca de 2014, a resposta foi rápida: "Vamos investir muito no ano que vem para que 2014 seja o ano do forte crescimento".