Título: Solicitar reunião não é crime
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/12/2012, Nacional, p. A6

Criminalista Celso Vilardi afirma que PF "confunde" relacionamento pessoal com a função que ex-assessora exercia

\ Rosemary Noronha confirma amizade com Paulo Vieira, ex-di­retor de Hidrologia da Agência Nacional de Águas (ANA), apon­tado pela PF como chefe de orga­nização criminosa para compra de pareceres de órgãos públicos.

Mas sustenta que o encaminha­mento de solicitações feitas por ele era uma de suas atribuições.

A versão de Rose está sendo. preparada cuidadosamente por" seu advogado, o criminalista Celso Vilardi. Causas intrinca­das dão a Vilardi experiência in-comum, em 23 anos de carreira e 43 de vida. Formado pela PUC/ São Paulo, professor de Direito na GV e especialista em ações sobre crimes financeiros, ele en­frentou, por exemplo, a Opera­ção Castelo de Areia, em 2009, que investigou evasão de divi­sas envolvendo executivos da empreiteira Camargo Correa.

Metódico, Vilardi derrubou a Castelo de Areia no Supe­rior Tribunal de Justiça (STJ), que julgou ilegal a espe­tacular missão policial. Sua es­tratégia, de modo geral, é traça­da a partir de contradições e brechas que busca nos próprios termos das acusações.

O sr. já definiu a estratégia de defesa de Rose?

Permaneço estudando o caso. O material é muito extenso. O inquérito terminou agora, o que me obriga a aguardar mani­festação do Ministério Público para decidir sobre medidas.

• A PF acusa Rose por quadrilha.

Estranho bastante a acusação, tendo em vista que os elemen­tos já eram conhecidos. Não me parece que haja qualquer fa­to a embasar esta acusação.

• A PF sustenta que Rose manti­nha "relação estável" com o gru­po de Vieira.

O relacionamento que ela pos­suía com Paulo já era conhecido do delegado antes da busca. É inadmissível uma nova acusação neste momento. Curiosamente este novo indiciamento veio após

uma petição minha em que reque­ri apuração rigorosa dos inúme­ros vazamentos que ocorreram.

• Rose foi elo da organização?

Rose não participou de qual­quer organização. Há um equí­voco no relatório, porque ela era muito amiga de Paulo e fez reformas em imóveis dele, além ter decorado e comprado os ob­jetos de decoração. A maioria das mensagens trocadas está re­lacionada a estes temas. A Polí­cia confunde o relacionamento pessoal e privado com a função que ela exercia e as solicitações que recebia.

Por que Rose encaminhava as solicitações de Paulo?

Paulo era funcionário público federal e solicitações de reu­niões eram feitas por ele e por muitas pessoas com cargos no governo federal, o que será facil­mente comprovado. Rosemary atendia muitas solicitações, na medida do possível, esta era uma de suas atribuições. Solici­tar reunião não é crime. Não há fato que indique que as solicita­ções estavam atreladas a irregu­laridades. Se em alguma reu­nião ocorreu uma irregularida­de ou um crime, não se pode presumir a participação de quem a agendou, por óbvio. Ela não teve qualquer vantagem in­devida. Foi apenas reembolsa­da de gastos que teve com a de­coração dos imóveis. Não há prova contra Rose por corrup­ção ou influência. Ela está indig­nada. É casada e mãe de família e está sendo exposta de forma absurda, com base em ilações.

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