Título: Madri vive madrugada de batalhas campais
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/11/2012, Economia, p. B1

A capital da Espanha viveu um final de noite de quarta-feira e uma madrugada de ontem de batalhas campais entre forças de ordem e manifestantes, horas depois de encerradas as manifestações da greve geral contra a política de austeridade.

As manifestações haviam começado pacíficas no final da tarde, mas a tensão já era perceptível entre a polícia e jovens que aderiram aos protestos em grupos. Com o passar das horas, as provocações ganharam dimensão até que o centro de Madri se transformou em uma praça de guerra. De um lado, os manifestantes atiravam pedras na policia e passaram a incendiar mobiliários urbanos, criando barricadas em pleno centro financeiro da cidade, onde a reportagem do Estado acompanhou os enfrentamentos.

Com o passar das horas, a resposta da polícia se intensificou. Tropas se deslocavam atirando bombas de efeito moral ou de gás lacrimogêneo. Grupos de vândalos também foram dispersados por tiros de balas de borracha. No início da madrugada, a região de Puerta del Sol, uma das mais tradicionais da cidade, estava sitiada por carros de polícia. Mas os jovens também se mantinham nas imediações, alguns deles unidos em gritos de ordem.

Nas ruas, o cenário era desolador, com lixo e entulho espalhados em alguns dos cartões postais da cidade - como acontece em Atenas nos protestos que sacodem o país nos últimos dois anos. Nas paredes, pichações e adesivos lembravam a greve geral e a ira que a população espanhola vem alimentando contra o sistema financeiro, acusado de intensificar despejos e confiscos de casas e apartamentos no momento em que o país enfrenta um desemprego superior a 25%.

Os protestos violentos levaram o governo de Mariano Rajoy a aprovar ontem um projeto de lei que criará uma moratória para os desalojamentos realizados a pedido dos bancos. Famílias que comprovem "estado de vulnerabilidade" receberão prazo de dois anos para recomeçar a quitar suas dívidas imobiliárias. Serão ofertadas casas e apartamentos para alugar a populações desfavorecidas.