Título: Esvaziada, Cúpula Ibero-Americana debate imigração e crise
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/11/2012, Economia, p. B1

Dilma Rousseff participa do evento, que se tornou mais importante para Espanha e Portugal que para latino-americanos.

Em um encontro político esvaziado pelas ausências dos chefes de Estado da Argentina, do Uruguai, da Venezuela, da Guatemala e de Cuba, a cidade de Cádiz, no sul da Espanha, recebe hoje e amanhã a Cúpula Ibero-Americana. Realizado na província que se tornou a capital europeia do desemprego, o evento terá como tema central a crise que abala as economias espanhola e portuguesa, mas razões políticas retiraram o assunto do documento final, que estava em fase de negociações na noite de ontem.

Depois de faltar à reunião de 2011, a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, chega a Cádiz com um peso político e econômico ainda mais reforçado. Isso porque para os países ibéricos investir em parcerias com a América Latina virou questão de sobrevivência em tempos de crise.

Segundo o jornal espanhol El País, a cúpula de 2012 será marcada pelos desequilíbrios, já que o encontro se tornou muito importante para Espanha e Portugal, mas não tão relevante para os latino-americanos.

O interesse pelo Brasil e demais países da região se dá porque, ao contrário da Europa, que registra recessão, a América Latina deve crescer cerca de 3,2% em 2012 e 4% em 2013.

Pesa ainda a favor dos países americanos o relatório do Banco Mundial que revelou uma queda brutal da pobreza na região, de 50% para 30% em uma década, e o crescimento de 50% da classe média no mesmo período.

Para um dos negociadores da declaração final da cúpula, temas como investimentos e relações comerciais se tornaram centrais no "retiro" dos chefes de Estado. "A crise alterou a posição relativa dos atores", disse o diplomata latino-americano, referindo-se à maior fragilidade dos governos da Espanha e de Portugal. "De um lado estão os europeus, se debatendo contra a crise, enquanto nós estamos crescendo. Somos parte da solução, não mais do problema."

Imigração. Um dos reflexos da discussão deve ser o debate entre Brasil e Espanha sobre a flexibilização das normas de imigração entre os dois países. O tema era objeto de incidentes diplomáticos até dois anos atrás, mas hoje é visto como uma questão estratégica para os dois países.

Da parte do Brasil, há interesse em atrair mão de obra qualificada da Europa, para suprir a carência das empresas brasileiras. "O Brasil está crescendo sem mão de obra qualificada suficiente. A Espanha está em crise, mas tem mão de obra", diz o diplomata. "É preciso conversar sobre mobilidade."

Ainda que estratégico, o evento será prejudicado pelas ausências da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, de Hugo Chávez, da Venezuela, e de José Mujica, do Uruguai.