Título: Alemanha e França crescem pouco e Europa volta a mergulhar na recessão
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/11/2012, Economia, p. B1

Zona do euro não resiste ao baixo crescimento das maiores potências e recua 0,4%; França é a "bomba de efeito retardado", diz revista.

O temido crescimento em W, previsto por economistas europeus, se concretizou ontem na zona do euro. Dois anos depois de retomar o aumento da atividade econômica, ainda que baixo, o bloco de 17 países que adotam a moeda única voltou oficialmente à recessão. De acordo com o Escritório Estatístico das Comunidades Europeias (Eurostat), a atividade econômica recuou 0,1% no terceiro trimestre de 2012, depois de ter se contraído 0,1% no segundo período do ano.

Em quatro anos, o Produto Interno Bruto (PIB) da região já teria perdido 2,5% do tamanho. No conjunto de 12 meses, o recuo chega a 0,4%, segundo dados do Eurostat. A dura realidade dos números foi conhecida na manhã de ontem, em Bruxelas, um dia depois da onda de protestos contra a austeridade que tomaram as principais capitais da Europa na quarta-feira, com enfrentamentos violentos entre a polícia e os manifestantes em cidades como Madri e Atenas.

Os resultados pífios da economia do bloco se devem em muito aos seus motores, Alemanha e França, que cresceram, mas não o suficiente para compensar as perdas na Itália e na Espanha, terceiro e quarto maiores mercados da zona do euro. Segundo o Escritório Federal de Estatísticas (Destatis), da Alemanha, o PIB do país cresceu 0,2% no terceiro trimestre, confirmando que a desaceleração também contagia Berlim. O resultado foi atribuído às variações sazonais de preços, mas elas não explicam tudo. No primeiro trimestre de 2012, o governo da chanceler Angela Merkel celebrava um crescimento de 0,5% - em plena crise das dívidas soberanas. No segundo trimestre, o desempenho caiu: 0,3%. Agora a redução de ritmo se repete mais uma vez.

A situação foi semelhante na França, mas com 0,2% de crescimento o governo do socialista François Hollande teve um motivo para comemorar: o país evitou a recessão. Pelos dados do Instituto Nacional de Estatísticas e de Estudos Econômicos (Insee) - que até ontem previa a estagnação do país, depois da queda de 0,1% no segundo trimestre -, Paris já pode contar com no mínimo 0,2% de alta do PIB em 2012, mesmo que o quarto trimestre registre estagnação. O objetivo do governo de Hollande é atingir 0,3%. Para o ministro da Economia, Pierre Moscovici, os números são modestos, mas "ligeiramente positivos".

Ainda que tenham escapado do pior, Alemanha e França já não ajudam a zona do euro a evitar a recessão. Itália e Espanha voltaram a apresentar quedas, com 0,2% e 0,3% no terceiro trimestre, respectivamente. Na Holanda, quinta maior economia da zona do euro, o desempenho negativo foi grave: -1,1% no período. Países considerados estáveis e saudáveis, como a Áustria, que perdeu 0,1% de seu PIB, também enfrentam dificuldades.

Para o economista holandês Martin Van Vliet, consultor do banco ING, os números das principais economias europeias refletem o cenário mais temido: o de recessão em W - ou double dip recession - , na qual ciclos de crescimento se alternam com trimestres de desaceleração e de recessão. "A atividade econômica da Europa está hoje cerca de 2,5% abaixo do nível de antes da crise", diz Vliet. Pelas projeções do ING, o cenário não é de melhora para o quarto trimestre de 2012.

Temores. A estagnação dos maiores países do bloco realimentou o temor de que a Europa tenha um novo pico da crise nos próximos meses. Em sua edição de amanhã, a revista britânica The Economist publicará uma reportagem de capa em que define a França - e seu governo socialista - como "bomba de efeito retardado" do bloco econômico.

A edição irritou o governo francês. Em visita a Berlim, o primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault disse que o governo está empenhado numa política de retorno do crescimento e de inversão da curva do desemprego. "Isso passa pela redução do endividamento da França, pelo retorno do diálogo social pacificado e pela retomada de nossa competitividade", disse Ayrault, que reclamou das críticas à gestão da crise. "Não temos lições a receber."

Angela Merkel, que ouvia o premiê francês, foi diplomática: "Nós desejamos uma França forte, assim como a França deseja uma Alemanha forte para que tornemos a Europa mais forte".