Título: Chávez anuncia volta do câncer, diz que será operado em Cuba e indica sucessor
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/12/2012, Internacional, p. A10

O presidente venezuelano, Hu­go Ghávez, voltou ontem a Cuba para nova cirurgia após a reincidência do câncer. No sábado, em cadeia nacional, ele reconheceu, pela primeira vez, que a doença pode ser o fim de seu governo e nomeou um sucessor, o chanceler e vi­ce-presidente do país, Nicolas Maduro.

Pela TV, em um apelo dramáti­co, Ghávez pediu que os venezue­lanos elegessem o vice-presiden­te, Nicolás Maduro, caso ele não consiga continuar no comando do país e se novas eleições forem convocadas. "Maduro não só nesta situação deve concluir co­mo manda a Constituição o pe­ríodo, mas minha opinião firme, plena como a Lua cheia, irrevogá­vel, absoluta, total, é que neste cenário que obrigaria a convocar eleições presidenciais, vocês elejam Nicolás Maduro como presi­dente", disse Ghávez

O presidente também contou sobre sua expectativa com rela­ção à nova operação que terá de fazer em Havana. "É necessário submeter-me a uma nova intervenção nos próximos dias", afir­mou o presidente. "Com o favor de Deus, como nas ocasiões ante­riores, sairemos vitoriosos, ire­mos para frente, tenho plena fé nisso", acrescentou Ghávez, bei­jando um crucifixo.

Contudo, o possível fim do go­verno desataria uma transição que, em um país tão centraliza­do e dependente de uma pessoa só como a Venezuela, poderia causar uma turbulência política. Os chavistas não têm o carisma que fizeram de Ghávez um dos mais reconhecidos líderes mun­diais e um dos principais críticos dos EUA.

Surpresa. Chávez não aparecia em público havia três semanas e decidiu, na sexta-feira, voltar de surpresa a Caracas, vindo de Cuba, onde passou por um novo tratamento médico. No sábado, o presidente lembrou que foi submetido a exames na ilha que detectaram a reincidência da doença da qual ele havia se decla­rado curado antes das eleições de 7 de outubro, quando conquis­tou um novo mandato de seis anos até 2019.

O presidente revelou que igno­rou a recomendação de sua equi­pe médica de ser operado "o mais breve possível", porque pre­cisava contar aos venezuelanos sobre sua situação. "Decidi vir, fazendo um esforço adicional, de verdade, porque as dores são de alguma importância."

Imediatamente após sua che­gada a Caracas, ele pediu que a Assembleia Nacional (Parlamen­to), lhe autorizasse a voltar para Cuba e realizar a quarta cirurgia desde que anunciou a doença. Ontem, os deputados, por unani­midade, deram sinal verde para Chávez se ausentasse do país.

Sucessão. A indicação de Ma­duro como sucessor de Chávez não chegou a ser uma surpresa para analistas venezuelanos. Quando o chanceler foi indicado a vice-presidente, o sociólogo Oscar Reyes, consultor do canal estatal TVES, já dizia que ele se­ria o mais forte candidato a her­deiro do chavismo.

Além de uma demonstração de proximidade de Chávez com o chanceler, a nomeação de Ma­duro para vice refletiu, segundo Reyes, o discurso de conciliação que o presidente reeleito adotou nos últimos dias. "Chávez colo­cou seu chefe de diplomacia co­mo vice e isso é significativo. Jaua não tem esse perfil de nego­ciação", disse, em referência ao vice-presidente anterior, Elias Jaua.

Oposição. Um porta-voz da oposição venezuelana exigiu on­tem que o governo diga "a verda­de" sobre a saúde de Chávez. Ramón Guillermo Aveledo, secretá­rio executivo da coalizão Mesa de Unidade Democrática (MUD) também pediu que a Constituição seja cumprida, seja qual for o cenário.

"Há coisas que temos dito reiteradamente e temos de ratifi­car: há duas chaves para qual­quer situação de crise. Uma, é a verdade, os venezuelanos têm de saber a verdade. Essa verdade em pedaços, por capítulos, cria situações que não são desejá­veis", disse ele em entrevista ao canal Globovisión. "E, em segun­do lugar, a Constituição assinala o caminho. É muito importante o que disse o presidente ontem, que tudo isso acabará em uma eleição, caso se produzam esses cenários a que ele se referiu." Enquanto isso, Henrique Ca- priles, ex-candidato opositor à presidência e maior rival de Chá­vez, prestou solidariedade ao presidente. "Hoje, o país ama­nheceu totalmente surpreso com a notícia da recaída do presi­dente e quero enviar minha soli­dariedade", disse Capriles. / afp, REUTERS e AP

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