Título: A Ata do Copom convence somente seus membros
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Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2012, Economia, p. B2

A Ata da 171.ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) é a mais interessante, desde que as autoridades monetárias optaram por manter a taxa de juros básica em 7,25%, por um prazo longo. Mas não afasta a impressão de que a avaliação do Copom parece, em alguns trechos, excessivamente otimista.

Repetindo o comunicado divulgado em seguida da reunião, os membros do Copom consideram que a estabilidade das condições monetárias é a estratégia mais adequada para a inflação convergir para a meta.

Mas os autores da ata reconhecem que o setor público vem se deslocando de neutro para expansionista, tendência que, a nosso ver, deverá intensificar-se até o fim do ano, com as taxas de juros das mais baixas, no plano mundial, nas operações do BNDES, destinadas ao financiamento de projetos que não parecem estimular as empresas a aumentar seus investimentos. Estas esperam, talvez, que o setor público dê o exemplo.

O risco que um ano atrás preocupava as autoridades monetárias - do descompasso entre oferta e demanda - parece ter desaparecido, uma vez que o Banco Central olha, agora, mais para a capacidade de produção do que para a elevação da demanda doméstica, embora a ata reconheça que a situação de pleno emprego pode levar a uma elevação exagerada de salários.

Aliás, a ata considera que os programas de concessão de serviços públicos estão na boa direção, na medida em que representam investimentos sem desembolsos do governo.

O documento não chega a convencer de que a inflação, em 12 meses, tende a se deslocar rumo à meta. Não é apenas uma taxa de crescimento menor que deveria preocupar as autoridades monetárias, mas também a nova alta dos preços das commodities e, mais ainda, uma taxa cambial que hoje, com um dólar que passou de R$ 2,05 para R$ 2,10, deve atrair a atenção do Banco Central. Este certamente gostou da redução do IOF sobre entrada de dinheiro do exterior, no caso de uma redução do prazo. Isso não só afasta uma inflação cuja origem estaria no câmbio, como permite receber mais recursos estrangeiros num momento em que as contas externas realmente precisam dessas entradas.

A Ata do Copom deixa a impressão estranha de que qualquer que seja a pressão inflacionária, as autoridades monetárias não estarão dispostas a recorrer tão cedo a uma elevação da taxa Selic. Trata-se de uma decisão audaciosa que se poderá mostrar arriscada.