Título: A pressão sempre foi para excluir Perillo
Autor: Britto, Ricardo ; Débora Bergamasco
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/12/2012, Nacional, p. A4

Para petista, problema não foi deixar outros suspeitos cie lado, e sim insistirem indiciar tucano por elos com Cachoeira

O relator da CPI do Cachoeira, o deputado Odair Cunha (PI-MG), teve seu texto final adiado por três vezes por falta de acordo e, na sessão final da comissão, foi derrotado por um texto, do deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF), que o petista classi­ficou de "pizza". Chamado de lí­der da tropa de choque do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na CPI, que originalmente pretendia investigar apenas membros da oposição e a im­prensa, Cunha produziu um rela­tório desidratado depois de ten­tar atingir o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e ser obrigado a recuar no indicia­mento de jornalistas. O que significou para o PT a derrota do seu relatório? Só tenho a dizer que quem vo­tou contra o meu relatório vo­tou a favor da tríplice aliança: governador Marconi Perillo, Fernando Cavendish e emprei­teira Delta. São muitos e são muito fortes os interesses por trás desses três nomes. Como o sr. viu os votos contrá­rios da base aliada do governo? Não falaremos em base, mas va­mos dizer que a aliança PSDB com PMDB foi o que viabilizou a derrota do meu trabalho. Faltou articulação política da sua parte? Não. E, infelizmente a presidente Dilma não entrou na articulação política dessa CPI do Cachoeira. Eu bem que tentei e, se ela tivesse entrado, nós não teríamos perdido. Até porque dois parlamentares do próprio PT votaram contra meu texto. E jogo de cintura da sua parte, faltou? O único jogo que tinha ali era tirar o Perillo do pedido de indiciamento. E isso eu não quis fazer. 0 sr. acha que sua recusa a incluir nomes como os de outros governadores contribuiu para que seu relatório ser rejeitado? De maneira nenhuma. A pres­são não era para incluir nomes, mas para excluir Perillo. Podem até fazer críticas ao meu traba­lho, mas ninguém pode dizer que fiz um relatório pizza. Nos baseamos em provas. Eu não quis imprimir uma marca pessoal no relatório, quis apenas tentar tirar uma ideia média da opinião de todos. E mais: poderíamos, sim, ter navegado em outros mares, mas a decisão de não prorrogar os trabalhos da CPI não foi minha foi dos líde­res que votaram pelo encerra­mento da comissão. Um senador disse que a CPI errou ao começar ouvindo suspeitos-chave do esquema de corrup­ção, em vez de começar por testemunhas periféricas. 0 sr. con­corda? Bem, agora pelo jeito temos um monte de engenhei­ro autor de obra pronta. Foi um erro incluir o nome do procurador-geral da República e de jornalistas em seu relatório? Não. Foi um erro tirá-los? Também não, pois poderia servir como modo de negociar acordo. Com esses nomes, ninguém nem vota­ria meu texto e aí eu seria culpa­do pela pizza. Fiz bem de tirar.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 19/12/2012 06:32