Título: Erro na previsão do PIB contraria Dilma
Autor: Villaverde, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2012, Economia, p. B8

Presidente não escondeu o desconforto com o fato de os dados do IBGE apontarem cenário bem pior do que o previsto pela Fazenda

O que mais contrariou a presidente Dilma Rousseff na manhã de ontem não foi o resultado pífio da economia entre julho e setembro. O que realmente atrapalhou o café no Palácio da Alvorada foi a distância entre a pequena alta da atividade econômica no terceiro trimestre do ano e o que foi projetado pela equipe do ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Uma hora antes do anúncio oficial dos dados, o titular da Fazenda recebeu os números. De São Paulo, o ministro fez uma rápida análise e encaminhou o documento para a presidente. Os dois não conversaram.

Reservadamente, a presidente Dilma chegou a demonstrar otimismo com a possibilidade de a economia apresentar um desempenho melhor nos próximos meses, mas não escondeu o desconforto com o fato de que os dados do IBGE apontaram um cenário muito pior no terceiro trimestre do que aquele previsto por Mantega. No pior cenário trabalhado até anteontem no governo federal, o Produto Interno Bruto (PIB) teria um avanço de 0,9% entre o segundo e o terceiro trimestres.

Internamente, os economistas do governo começaram ontem mesmo a revisar suas estimativas para o avanço do PIB em 2012. Muito provavelmente, a economia crescerá neste ano ligeiramente acima de 1%, isso num cenário otimista. "O ano realmente foi perdido, em termos de PIB", disse uma fonte.

Para aliviar o cenário, autoridades do governo ouvidas pelo Estado tentaram mostrar que o ano de 2012 serviu para montar todos os estímulos e reformas - como a mudança na caderneta de poupança, a proposta de redução da conta de luz e as concessões à iniciativa privada de obras de infraestrutura - que vão impulsionar o PIB em 2013. Um ministro afirmou ao Estado que o crescimento na casa de 4% no ano que vem é "inquestionável".

Mais medidas de estímulo à economia virão. Ao menos cinco setores serão contemplados, provavelmente na semana que vem, com a desoneração da folha de pagamentos. Até o momento, o setor da construção civil é o único confirmado. Os estudos técnicos já estão quase prontos. Além disso, o governo pode conceder ainda neste ano um reajuste no preço da gasolina, para melhorar o resultado da Petrobrás e, assim, impulsionar os investimentos da estatal.

Foco. De acordo com fonte do alto escalão da equipe econômica, o desempenho dos investimentos no terceiro trimestre foi "péssimo", e determinante para o fraco resultado do PIB. Entre julho e setembro, os investimentos foram 2% menores que no segundo trimestre. Essa queda representou um tombo de 0,35 ponto porcentual do PIB, calculou a fonte. Isso quer dizer que, se os investimentos tivessem zerado no trimestre, o PIB teria aumentado 0,95%.

"As próprias medidas lançadas pelo governo no terceiro trimestre travaram os investimentos no período", avaliou uma fonte qualificada da equipe econômica. A autoridade fez referência à medida de redução das taxas de juros de diversas linhas do BNDES, que não conseguiram ser implementadas rapidamente pelo banco. Isso atrasou alguns planos empresariais.

Em Brasília, apesar da surpresa com os dados do PIB, a posição de Mantega no comando da Fazenda não foi contestada. "Atravessamos uma crise internacional que está reduzindo o crescimento de todos os países, e 2012 foi o ano de preparação para o período de forte crescimento", disse, ontem, um ministro.