Título: Quilombolas fazem protesto contra Marinha ao lado de retiro de Dilma
Autor: Décimo, Tiago
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/01/2013, Nacional, p. A6

Com faixas e apitos, vizinhos da base naval acusam militares de cometer violências para forçá-los a deixar a área

Moradores da Comunidade Quilombola de Rio dos Macacos, que fica ao lado da Base Naval de Aratu, em Salvador, aproveita­ram a presença da presidente Dilma Rousseíf nas instalações da Marinha para protestar, ontem cedo, contra atos de violência que dizem estar sofrendo por parte dos moradores da base.

Com faixas, cartazes e apitos, o grupo se reuniu na Praia de São Tomé de Paripe, ao lado do mu­ro que separa o local da Praia de Inema - à qual só têm acesso os militares - e dali passou a gritar palavras de ordem. "Assim co­mo fizemos no início de 2012 (quando Dilma também descarna­va na base naval), viemos alertar a presidente sobre nossa situa­ção e cobrar ações", conta a líder dos quilombolas, Rose Meire dos Santos Silva, de 34 anos.

A Comunidade de Rio dos Ma­cacos é alvo de disputas entre os moradores e os militares desde a década de 1960, quando a Prefei­tura de Salvador fez a doação da área da base para a Marinha. Na década seguinte, 101 casas da co­munidade foram derrubadas pa­ra a ampliação da infraestrutura das instalações.

No início dos anos 2000, com os planos de expansão da base, a pressão para que os quilombolas saíssem aumentou. Em 2010, a Justiça baiana chegou a determi­nar a desocupação da comunida­de, mas a decisão foi derrubada.

Pressão. A Marinha manteve a pressão, cercando a área e impe­dindo o trânsito no local. Segun­do os moradores, militares tam­bém teriam praticado agressões contra habitantes e depredações de imóveis, para forçar a saída dos quilombolas. Em um desses episódios, no último dia 18, um militar teria atirado a esmo contra casas do lugar, sem deixar feridos. Das 160 famílias que mora­vam na comunidade há cinco anos, restam 90, afirma Rose.

Em julho último, um relatório do Instituto Nacional de Coloni­zação e Reforma Agrária (Incra) reconheceu o local como quilom­bo, numa área de 301 hectares. A Marinha quer reduzi-la a 23.

Alheia à manifestação, a presi­dente Dilma Rousseff continua sem aparecer em áreas públicas na base naval - rotina que tem mantido desde que chegou, no dia 28, para passar a virada de ano. Segundo a assessoria da Pre­sidência, Dilma ainda não confir­mou quando volta a Brasília.