Título: Líder venezuelano não conseguirá voltar à presidência
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/01/2013, Internacional, p. A8

Heinz Dieterich» sociólogo e ideólogo do chamado "socialismo do século 21"

Ex-mentor intelectual de Chávez, sociólogo alemão duvida que mudança no poder trará instabilidade; "eleições decidirão futuro"

A presença de Hugo Chávez em Caracas para sua posse no dia 10 é "pouco provável", mas o país deve seguir "suas bases constitucionais". A avaliação é do sociólogo Heinz Dieterich.

Qual é a possibilidade de que Hugo Chávez esteja em Caracas para a posse no dia 10?

Vejo como pouco provável. Mas certamente se pode dizer, e essa é a informação crucial, que não conseguirá voltar a exercer a presidência.

No caso da ausência do presi­dente, é mais provável que se convoque eleições ou haverá ins­tabilidade?

Não haverá instabilidade. A maioria da população quer or­dem e paz. Os principais líderes da oposição, particularmente Henrique Capriles, já entende­ram isso. É a mesma posição do lado governista. Quer dizer, não há nenhuma força relevan­te" na Venezuela que pretenda ou possa provocar instabilida­de. O processo continuará por suas bases constitucionais, e is­so significa novas eleições.

A oposição tem força suficiente para vencer novas eleições?

Não, a oposição não pode ven­cer novas eleições. Está dividi­da e, acima de tudo, não tem um projeto convincente de go­verno. Para ganhar, precisa des­locar-se para o centro. Capriles e Ramos Allup iniciaram esse processo, mas ainda necessi­tam de alguns anos para obte­rem credibilidade. Os oposito­res perderão a eleição se o cha- vismo jogar bem suas cartas.

0 sr. falou ao diário chileno La Tercera sobre um "chavismo sem Chávez". Como seria esse contexto?

Um governo liderado por um presidente Nicolás Maduro se­ria o "chavismo sem Chávez". No entanto, à medida que Ma­duro se consolidasse no poder e Hugo Chávez se debilitasse ca­da vez mais pela doença, Madu­ro poderia estabelecer mudan­ças no modelo original. Seria um processo semelhante ao cubano. Raúl Castro segue for­malmente o modelo socialista de Fidel, mas o está alterando qualitativamente.

O vice-presidente Maduro é capaz de concluir um processo de sucessão? A indisposição en­tre ele e Diosdado Cabello pode ser um obstáculo?

Cabello perdeu a batalha públi­ca pela sucessão, mas continua a ter considerável poder. Ele uti­lizará esse poder para tratar de moldar o processo de transição e manter seu potencial político para o futuro. O mais provável é que Maduro e Cabello façam uma aliança tática agora para ga­nhar as eleições. Depois, a histó­ria será outra.

Como os militares venezuela­nos estão monitorando a situa­ção? Há mal-estar nos quartéis?

Não, não há mal-estar. A tropa e os comandantes médios estão com Hugo Chávez, e o mesmo vale para os altos oficiais, tanto os que estão na ativa quanto os que viraram governadores - são 11 de 2o - e passaram a integrar a classe política chavista. São al­tamente politizados, conscien­tes da situação e têm toda a in­formação necessária para anali­sar e atuar como um bloco coe­so de poder.