Título: Guerra na Síria matou ao menos 60 mil, diz ONU
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/01/2013, Internacional, p. A9

A guerra civil na Síria já dei­xou pelo menos 6o mil mortos e mais de 500 mil refugiados em menos de dois anos de vio­lência. Os números foram di­vulgado ontem pela ONU e re­velam que a crise síria é um dos conflitos mais sangrentos dos últimos 25 anos.

O que mais preocupa a entida­de, porém, é falta de perspectiva nos círculos da diplomacia global e de Damasco sobre como en­cerrar o banho de sangue. Desde terça-feira, por exemplo, já foram registradas mais de 110 mor­tes e o conflito ganha contornos cada vez mais sectários, com a presença de combatentes ultrarradicais islâmicos.

"Esses números são muito maiores do que imaginávamos", disse Navi Pillay, alta comissária da ONU para Direitos Huma­nos, que encomendou o traba­lho divulgado ontem. "As conclu­sões são chocantes", resumiu.

ONGs e mesmo a ONU já ha­viam divulgado diferentes núme­ros de mortos nos últimos me­ses. Mas, no cenário mais pessi­mista, as mortes eram estimadas em 47 mil pessoas.

Agora, os números incluem as vítimas entre março de 2011, quando a revolta contra o presi­dente Bashar Assad começou, e novembro de 2012. Pillay afirma que rebeldes também cometem violações sistemáticas que pode­riam atingir o patamar de crimes contra a humanidade. Mas insis­te que a responsabilidade pelo conflito é de Assad, que optou por uma "repressão violenta" contra o que era inicialmente uma manifestação pacífica em busca de maior liberdade.

"A perda em massa de vidas poderia ter sido evitada se o go­verno sírio tivesse escolhido um outro caminho", alertou a comis­sária da ONU. "Cidades e vilarejos estão sendo devastados por ataques aéreos", indicou. Até o final de novembro, o número oficial de mortos era de 59,6 mil. Para chegar à cifra, os analistas incluíram apenas casos em que o nome e sobrenome das vítimas eram conhecidos, além da data e local da morte. Mas a própria Pillay estima que esses dados são inferiores ao número real de vítimas. Segundo ela, a lista aumenta a cada dia.

Ontem, pelo menos 30 pessoas morreram em um ataque aéreo contra um posto de gasolina num bairro de Damasco, onde pessoas sem combustível por quatro dias aguardavam. Doze membros de uma mesma família ainda foram mortos em um ata­que contra uma padaria.

Já na cidade de Idlib, perto da Turquia, grupos vinculados à Al-Qaeda estariam conduzindo uma ofensiva contra alvos do re­gime Assad. "A natureza cada vez mais sectária do conflito sig­nifica que um fim tranqüilo será cada vez mais difícil de se obter", alertou Pillay.

O que os números mostram também é que o conflito tem se intensificado nos últimos me­ses. A média mensal de mortos era até pouco de 1 mil pessoas e agora atingiu o patamar de 5 mil. As áreas mais atingidas são Homs, com 12,5 mil mortos, se­guida pela região rural de Damas­co, com 10,8 mil. Mais de 75% dos mortos são homens. "Não há justificativa para uma matan­ça dessa escala", disse Pillay. Ela alerta que os autores dos crimes um dia serão levados à Justiça.

A ONU também aproveitou a divulgação dos números para fa­zer uma dura crítica ao fracasso da comunidade internacional em lidar com o conflito. "Esses não são números definitivos", la­mentou Pillay. "Se não houver uma solução rápida para o confli­to, temo que milhares de outras pessoas morrerão", disse.

"O fracasso da comunidade in­ternacional - e em especial do Conselho de Segurança - nos en­vergonha", atacou Pillay. "Meus funcionários e a comissão de in­quérito têm coletado relatos dentro e fora da Síria, escutando histórias e reunindo evidências. Mas somos frequentemente questionados: onde está a comu­nidade internacional? Porque não estão agindo para conter es­sa matança?"