Título: Aluna rejeita nota de redação do Enem e Justiça dá direito à vista da prova
Autor: Grettet, Fábio
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/01/2013, Vida, p. A11

Uma estudante do Rio conse­guiu na Justiça o direito de ver a correção da redação do Exa­me Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2012 e pedir revi­são da nota. Ela contesta a ava­liação da banca e espera ter a pontuação alterada até segun­da-feira, quando começam as inscrições no Sistema de Sele­ção Unificada (Sisu), por meio do qual serão preenchidas 129 mil vagas em instituições pú­blicas de ensino superior.

A insatisfação da carioca não é caso isolado. Ontem à tarde, can­didatos acionaram o Ministério Público Federal (MPF) em cinco Estados para ter direito de vista da redação. Para subsidiar a representação, entregaram uma petição com cerca de 9,4 mil assi­naturas coletadas pela internet.

O procurador da República no Geará Oscar Gosta Filho já anunciou que moverá hoje uma ação civil pública contra o Instituto : Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do Ministério da Educação (MEC) responsável pelo Enem. Para ele, permitir a revisão da reda­ção tomará o exame mais "trans­parente". "Em todo concurso pú­blico é sagrado o direito da revi­são. Não adianta fazer uma maquiagem fornecendo um guia para os candidatos entenderem as notas e não permitir que a pon­tuação possa ser impugnada. "

Estudantes pretendem ir hoje à sede do MPF-CE para apoiar o procurador. Protestos marca­dos em 12 capitais culminaram com a entrega do abaixo-assina­do ao MPF. Os procuradores se comprometeram a analisar o ca­so e estudar possíveis medidas judiciais contra o Inep.

No Rio, cerca de 60 manifes­tantes se concentraram no cen­tro da cidade. "No ano passado tirei 800 na redação. Neste ano me preparei mais e tirei 540", dis­se Vanessa Sandall, de 18 anos, que tenta vaga em Direito. Ela contou ter tirado 8 (de 10) na re­dação da PUC-Rio e 17 (de 20) na prova da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Ueij). Em Maceió, apenas sete estudantes foram à passeata. Um dos organizadores do protesto, José Albérico Filho, de 17, lamentou a baixa mobilização. "Interagir nas redes sociais é cômodo", disse ele, referindo-se à grande adesão alagoana ao grupo do Facebook Ação Judicial - Redação Enem 2012, com 27 mil membros.

Candidato a Direito na Univer­sidade Federal de Alagoas (Ufal), Albérico tirou 520 na re­dação, o que considera injusto. "Queria o direito de ter acesso à prova corrigida para saber onde foi que errei, porque segui os pa­râmetros exigidos pelo MEC."

"Vista pedagógica." Procurado, i o MEC disse que o edital do Enem não prevê a possibilidade : de pedir revisão da nota da reda­ção. A pasta informou que neste ; ano será cumprido o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado com 0 MPF para que os : candidatos tenham acesso ao es­pelho da correção da prova. Para o ministério, a ação anunciada pelo procurador Oscar Costa Fi­lho contraria o TAC. A "vista pe­dagógica" estará disponível a partir de 6 de fevereiro.

Ainda de acordo com o MEC, foram tomadas outras "medidas de aperfeiçoamento" na corre­ção da redação. Entre elas a dimi­nuição da discrepância entre as notas dadas pelos dois avaliado­res para que o texto fosse lido; por um terceiro corretor.

Segundo o MEC, a avaliação le­va em conta cinco itens, como domínio da norma padrão da lín­gua escrita, compreensão da pro­posta de redação e capacidade de selecionar, relacionar, organi­zar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista. / COLABORARAM CARLOS LORDELO, CARLOS NEALDO, DAVI LIRA, LAURIBERTO BRAGA e TIAGO ROGERO