Título: PT tem de ceder a aliados, afirma governador
Autor: Domingos, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/01/2013, Nacional, p. A4

O enquadramento do PT será o maior desafio de Dilma Rousseff na tentativa de conquistar mais um mandato na eleição de 2014, na opinião de auxiliares palacia­nos e de políticos petistas liga­dos à presidente da República.

"A grande tarefa do PT para a eleição presidencial não é negociar com a base aliada o que o partido pensa e deseja, mas o que os outros querem para man­ter essa mesma base coesa e for­te" afirma o governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT), conse­lheiro próximo da presidente.

"O PT precisa te rpaciência para ouvir os aliados, suas angús­tias, suas críticas. E tem de dizer a eles a importância que têm pa­ra o projeto de governo, muito acima das fronteiras do próprio PT. Esse é o grande desafio da presidente da República e do nos­so partido", diz o governador.

"Se recuperarmos a relação de confiança, já estaremos no cami­nho certo", completa Déda, se­gundo quem a maneira de agir do PT ajudará Dilma a equalizar as forças no Congresso Nacio­nal, uma das tarefas principais da presidente em seus dois anos que restam de mandato. A tarefa de convencer os petistas a cede­rem espaço, porém, não será fá­cil, afirma o governador.

Economia. Parte do PT, por exemplo, acredita que Dilma só será reeleita se o País crescer 4,5% ao ano, o que depende de inúmeras variáveis na economia.

Com 78% de popularidade fe­chados no final do ano, Dilma tem a convicção de que só mante­rá esse índice favorável se ven­cer desafios enormes, diz o governador de Sergipe. Ela terá, por exemplo, de evitar uma desaceleração econômica maior do que a de 2012, em que o Produto Interno Bruto (PIB) poderá ficar menor do que 1% - depois de vá­rias previsões otimistas da equi­pe econômica -, manter o atual nível de emprego, pôr em prática o pacote de melhorias na infraestrutura e retirar mais 6 milhões de pessoas da linha de pobreza.

Dilma não poderá, segundo Dé­da, ficar apegada apenas à ban­deira do combate à miséria. Ou­tros projetos destinados à cha­mada nova classe média terão de aparecer, de acordo com petis­tas ligados à presidente.

Na opinião do petista, a presi­dente deverá ainda mostrar que não tolera a corrupção, o que se faz necessário para neutralizar a emergente força do ministro Joa­quim Barbosa, do Supremo Tri­bunal Federal. Embora não te­nha filiação partidária e nem te­nha dado demonstrações de que poderá ser candidato, o certo é que o governo considera o rela­tor do processo do mensalão uma incógnita que poderia se ani­mar com a recente popularida­de. No Palácio do Planalto existe uma preocupação com o fato de pesquisa feita pelo Instituto Datafolha no final do ano passado ter apresentado Joaquim Barbo­sa com média de 10% da prefe­rência do eleitorado na primeira vez em que foi mencionado em tal tipo de questionário.

Para o cientista político Fábio Wanderley Reis, hoje não há co­mo duvidar de que Dilma é a favo­rita à reeleição. "Acho que a oposi­ção tem um quadro muito compli­cado pela frente. Não há uma lide­rança que justifique uma aposta precoce. O senador Aécio Neves (já lançado oficialmente candidato dos tucanos em 2014) não decola. Uma aposta no Eduardo Campos (governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB) ainda não pode ser feita, porque não sabe­mos ao certo o que ele quer."

Reis acha que hoje Dilma agre­ga, para o eleitor, a herança míti­ca do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Bolsa-Família, ga­nhos salariais, e imagem de ges­tora que reduziu o desemprego. "Dilma só não vence a eleição se fizer uma bobagem muito gran­de, capaz de abalá-la. Não essas besteiras que são feitas todos os dias, porque essas não colam."

O cientista político não acredi­ta nem que a preocupação com as condições de atendimento à saúde e falta de segurança públi­ca podem prejudicar o projeto de reeleição da presidente.

"Esses são temas que aterrori­zam a classe média. Não novidade para o grosso do eleitorado, que vive isso no seu cotidiano. Como já aconteceu em outras eleições, ele parece não se impor­tar com isso quando deposita o voto na urna." / joãodomingos

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