Título: Campos diz a Dilma que PSB será fiel em 2013, mas não descarta candidatura
Autor: Domingos, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/01/2013, Nacional, p. A4
Os afagos que a presidente Dilma Rousseff vem fazendo no governador de Pernambuco, Eduardo Campos, como o almoço na Base Naval de Salvador, no último sábado, serviram para selar a permanência do PSB na base parlamentar do governo no Congresso durante este ano. Mas não conseguiram ainda tirar do também presidente nacional do PSB o compromisso de que ele não disputará a Presidência da República no ano que vem.
Uma coisa é o acordo para evitar conflagrações num ano em que a presidente busca sossego para fazer um terceiro ano de governo voltado para a consolidação das obras de infraestrutura e costura de uma base aliada sólida que possa garantir sua reeleição; outra é a disputa presidencial, confidenciou ao Estado um interlocutor de Eduardo Campos. No almoço de sábado ficou decidido que o PSB evitará qualquer tipo de ataques ao governo.
O governador de Pernambuco é visto no meio político como um potencial candidato à Presidência, ou em 2014 ou em 2018, o que preocupa o PT. Correligionários de Campos não escondem que o PSB, partido que mais cresceu proporcionalmente nas eleições municipais do ano passado, tem a pretensão de conquistar a vaga de vice-presidente numa reeleição de Dilma em 2014 como um trampolim político para credenciar Eduardo Campos para um voo solo.
Campos vinha fazendo críticas à política econômica do governo Dilma. Em entrevista ao festado em 17 de dezembro, o governador disse que a presidente terá de retomar o crescimento econômico de forma urgente no primeiro trimestre. Caso contrário, previu, terá perdido todo o ano de 2013.
O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), também participou da conversa. Estavam presentes no almoço, ainda, as mulheres dos dois governadotes, a mãe da presidente Dilma, sua filha Paula e o neto Gabriel.
Os dois governadores chegaram a Base Naval de helicóptero, por volta do meio-dia. Saíram às 19 horas. De acordo com assessores de Campos e Wagner, Dilma quis fazer do almoço um encontro familiar, com conversas amenas. Mas falaram também de política. E muito.
Wagner defende a ideia de dar a Campos a vaga de vice na chapa de Dilma Rousseff nas eleições de 2014. 0 problema é que o dono da vaga hoje é o PMDB, o principal aliado do governo. E o presidente do partido, também vice- presidente da República, Michel Temer, já disse que o PMDB está comprometido com a chapa de Dilma Rousseff no ano que vem. E que só pensará em candidatura própria em 2018.
Pressões. Campos vem sofrendo pressão dentro do próprio partido, por parte de empresários importantes e também de oposicionistas, para sair candidato a presidente no próximo ano.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já o procurou para dizer que deve deixar uma possível candidatura para 2018, garantindo-lhe apoio do PT.
No final do ano, o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) afirmou que 2018 será de fato a vez de Campos. E que o PT não lançará candidato. Mas Campos não confia nessa promessa e nem que os petistas vão desistir de lançar candidato próprio.
Sedução tucana. Na tentativa de mantar Eduardo Campos longe da oposição, especialmente do senador Aécio Neves (PSDB), com quem o pernambucano tem ótima relação, a presidente Dilma tem atendido a todos pedidos do governador. Além da liberação de R$ 1 bilhão para Pernambuco executar a construção de um canal que vai transportar água do Rio São Francisco para o agreste pernambucano, a presidente garantiu o financiamento de cerca de R$2,4 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) para construção de fábrica da Fiat no Estado.
Câmara. No acordo para não criar marolas com o governo federal, Eduardo Campos comunicou à presidente Dilma Rousseff que a candidatura do deputado Júlio Delgado (MG) à presidência da Câmara não tem o apoio da direção nacional do PSB. Trata-se, segundo os esclarecimentos de Campos, de uma candidatura avulsa do deputado.
O governador tem dito que essa candidatura não garante nenhuma vantagem para o PSB e partiu de um desejo pessoal de Delgado e assim vai continuar. O governo apoia a candidatura do peemedebista Henrique Eduardo Alves (RN). Ainda que a disputa no Congresso tenha sido aparentemente contida, o mesmo não se pode dizer sobre as articulações políticas para 2014.