Título: Agregadora de custos
Autor: Ming, Celso
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/01/2013, Economia, p. B2
Assim como está, a indústria brasileira não agrega valor – agrega custo.
A queda da produção de veículos em 2012, de 1,9% em relação a 2011, num ano em que o setor foi brindado com presentes fiscais e avanço maciço do crédito, é somente um pormenor do mau desempenho de todo o setor industrial no ano passado.
Os números do IBGE (até novembro) já tinham acusado retração de toda a produção industrial, de 2,6% em 12 meses – foi "um ano perdido para a indústria", como prefere dizer o professor Júlio Gomes de Almeida, da Unicamp.
Os dirigentes do setor vêm denunciando o que entendem por processo de desindustrialização no Brasil. Mas se perderam no diagnóstico. Para eles, o enfraquecimento da indústria nacional se deveu ao câmbio fora de lugar, ao juro escorchante e ao jogo comercial desleal dos chineses.
Persistem no erro quando aplaudem as políticas minimalistas e de baixo fôlego do governo Dilma. Isenção tributária temporária, reduções cosméticas de encargos trabalhistas, baixas imperceptíveis de juros nas operações de crédito e encorajamento a aberturas de processos de defesa comercial – nada disso corrige o problema de fundo, que é baixa crescente de competitividade da indústria.
Para resgatar a indústria, o governo Dilma acreditou em que bastaria atacar o que entendeu como dólar barato. Logo se viu que todo o setor produtivo está fortemente dependente de máquinas, matérias-primas, componentes, peças e capital de giro do exterior. Nessas condições, a desvalorização do real (alta do dólar), de perto de 20% a partir de março de 2012, em vez de baixar, contribuiu para puxar ainda mais para cima os custos da indústria e para tirar-lhe mercado interno.
Ao longo de 2012, o País foi um dos líderes mundiais em aberturas de processos antidumping. No entanto, o problema não está nas práticas comerciais desleais dos concorrentes. Qualquer exportador para o Brasil ganha do produto fabricado aqui, seja ele chinês, coreano, indiano, filipino, mexicano ou do Leste Europeu. A indústria do mundo inteiro está comendo mingau no País porque a produção industrial brasileira perdeu capacidade de competir. Os dirigentes conformam-se em aceitar os surrados argumentos oficiais de que a crise global estreitou o mercado externo e que basta esperar pela virada do jogo, que ele virá naturalmente. E, no entanto, no mundo inteiro a mesma crise está levando a indústria global a se modernizar, a elevar a competitividade, a deixar a indústria brasileira para trás.
Mergulhada em custos cada vez mais altos por enfrentar carga tributária insuportável, insumos caros demais e crescentes despesas trabalhistas, a indústria brasileira vai envelhecendo. Os truques protecionistas do governo Dilma às vezes lhe dão sobrevida no mercado interno. No entanto, incapaz de investir, a indústria brasileira não apresenta preço e não tem como se expandir no mercado externo.
Tarifas aduaneiras altas demais e reservas de mercado não ajudam o setor produtivo a se modernizar. Se o governo brasileiro quer mesmo salvar a indústria, tem de promover um choque de competitividade.
Para baixo. A expectativa geral é de que a evolução do PIB do Brasil em 2012 não chegará nem mesmo a 1%. Pela segunda semana consecutiva, a pesquisa Focus, feita com cerca de 100 instituições, aponta aumento do PIB de somente 0,98%. Recuou também a expectativa de avanço do PIB de 2013, de 3,30% para 3,26%.