Título: Emissão de C02 supera meta de 2020
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/11/2012, Vida, p. A26

As promessas da comunidade internacional de reduzir suas emissões de gases de efeito es­tufa para conter o aumento de temperatura em até 2°C não foram cumpridas, advertiu on­tem a Organização das Nações Unidas (ONU) em um informe elaborado por um painel de 55 especialistas de 20 nacionali­dades diferentes.

O relatório mostra que o nível atual de emissões já está cerca de 14% acima do que deveria estar em 2020. Em vez de cair, as emis­sões aumentaram em torno de 20% desde o ano 2000.

"A transição para uma econo­mia de baixo carbono está sendo feita de maneira extremamente lenta", alertou Achim Steiner, di­retor executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Am­biente (Pnuma). De acordo com ele, "as possibilidades de se con­seguir um aumento máximo de 2°C são reduzidas um pouco mais a cada ano".

O objetivo de 2°C fixado pela comunidade internacional é o máximo, segundo os cientistas, para evitar que o sistema climáti­co comece a produzir efeitos que acelerariam fortemente o aquecimento do planeta.

Para alcançar a meta de redu­zir o aumento do aquecimento global a um máximo de 2°C, se­ria necessário que o planeta emi­tisse até 44 gigatoneladas de C02 equivalente por ano até 2020. En­tretanto, atualmente são emitidas aproximadamente 50 gigatoneladas, segundo o informe.

Meta distante. A ONU tam­bém alerta que, se medidas ur­gentes não forem tomadas, o ní­vel pode chegar a 58 gigatonela­das em oito anos, e o aumento médio da temperatura do plane­ta durante este século será de 3°C a 5°C.

O relatório foi apresentado poucos dias antes da abertura da grande reunião de cúpula anual sobre o clima, que será realizada em Doha, no Catar, de segunda-feira, dia 26, até 7 de dezembro. Representantes de mais de 190 países tratarão dos esforços para conter as mudanças climáticas. Espera-se que um acordo seja fe­chado até 2015, para que entre em vigor em 2020.

"Quanto antes os países cum­prirem o que prometeram, me­lhor será. Mas, mesmo que cum­pram todos os compromissos, is­so não será suficiente para alcan­çar a meta de 2°C", afirmou um dos especialistas da ONU, John Christensen. "Os países podem aumentar seu nível de ambição, mas isso significa que se deve agir agora", reforçou.

Brecha crescente. Em 2011, o Pnuma estimou que a brecha en­tre as intenções declaradas pe­los países após a reunião de Copenhague, em 2009, e as emis­sões mundiais máximas compa­tíveis com o limite de um aumen­to da temperatura de até 2°C era, no melhor dos casos, de 6 gigato­neladas.

Agora, afirma o Pnuma, essa brecha aumentou para mais de 8 gigatoneladas. Isso se explica emparte porque "os países escla­receram suas promessas, explicando como elas devem ser inter­pretadas na prática, o que permi­tiu atualizar nossa avaliação", ex­plicou um dos autores do infor­me, Joeri Rogelj.

Apesar dos alertas, o diretor executivo do Pnuma tentou man­ter o otimismo, observando que a brecha entre as intenções e as metas "poderia ser reduzida, com o emprego das tecnologias existentes e com a aplicação de políticas".

Steiner também chamou aten­ção para "as numerosas ações aplicadas em cada um dos países-membros", assim como a busca por uma maior eficiência energé­tica nos edifícios, a luta contra o desmatamento e o aumento no­tável dos investimentos na gera­ção de energia renovável, que chegaram a US$ 260 bilhões no ano passado.