Título: Baixo crescimento faz Moody’s desistir de elevar nota de crédito do Brasil
Autor: Leopoldo, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/11/2012, Economia, p. B1

Anúncio surpreende mercado porque agência deu nos últimos meses sinais de que elevaria classificação, o que ajudaria a atrair capital

Numa decisão incomum, a agência de classificação de ris­co Moody"s anunciou ontem que manteve a nota de crédito do Brasil. O anúncio surpreen­deu, pois a Moody"s deu sinais nos últimos meses de que ele­varia a nota brasileira.

Quanto maior a nota de crédi­to concedida por agências como a Moody"s, mais seguro é consi­derado um emissor de dívida. Ou seja, em tese, uma elevação pela Moody"s poderia atrair mais capitais externos para o merca­do brasileiro.

Segundo o vice-presidente da agência, Mauro Leos, "o baixo crescimento médio de 2% em 2011 e 2012 foi um fator muito importante" para que a nota não fosse elevada. Nova reavaliação do Brasil somente ocorrerá en­tre 12 meses e 18 meses, disse Leos, de Nova York, para a Agên­cia Estado. Na prática, a altera­ção da classificação brasileira foi adiada para o fim de 2013.

O rating soberano do Brasil fi­cou estável na nota Baa2 e tam­bém não houve alteração da pers­pectiva soberana, que continua positiva. Até o início de novem­bro, a sinalização da Moody"s era no sentido de elevar a nota.

"Um fator importante para melhorar o rating é se o PIB vai para uma marca ao redor de 4% em 2013, que é um número próxi­mo à média registrada pelo País num período considerável de tempo", disse Leos.

De 2003 a 2010, a média de ex­pansão do Produto Interno Bru­to (PIB) do Brasil ficou levemen­te superior a 4%. Em 2011, o PIB subiu 2,7% e neste ano deve avan­çar menos ainda. O Banco Cen­tral estima que o crescimento se­rá de 1,6%. Para Leos, outro fator importante para ajudar o PIB a crescer por volta de 4% nos próxi­mos anos será uma elevação da taxa de investimentos.

Pedagogia. A decisão da Moody"s deve ter um caráter pe­dagógico para o governo federal, a fim de dar maior ênfase a fato­res estruturais que estimulam o crescimento, como os investi­mentos, sobretudo do setor pri­vado, comentou a professora da PUC-RJ, Monica Baumgarten de Bolle. "Há uma imensa incerteza regulatóriapor parte dos empre­sários em relação às medidas inadequadas que o governo adotou recentemente, provocando in­tervenções diretas em vários se­tores importantes, como o elétri­co, os bancos, sem falar nas inde­finições sobre reajustes de com­bustíveis pela Petrobrás."

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, firmou que foi "coerente" a decisão da Moody"s. "A decisão foi correta, pois está baseada em grande par­te no baixo crescimento do País apurado nos dois últimos anos."

Para o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Bor­ges, a Moody"s só não elevou o rating de longo prazo do Brasil por causa da baixa taxa de cresci­mento. Em 2014, porém, diz ele, a nota brasileira deverá ser eleva­da por um crescimento que, no próximo ano, deverá alcançar 4% e prosseguir em 2014.

O coordenador-geral de Plane­jamento Estratégico do Tesouro Nacional, Otávio Ladeira Medei­ros, avaliou como positiva a manu­tenção do "outlook positivo". "Comparado com outros países, a manutenção pode ser vista de for­ma bem positiva. Mas, como não vi o documento, não posso afir­mar em detalhes."