Título: EUA na contramão da Europa
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Fonte: O Estado de São Paulo, 25/12/2012, Notas e informações, p. A3

O mundo rico ain­da enfrentará gra ves dificuldades em 2013 com de­semprego elevado, tensão nos mercados, muito desajus­te nas contas públicas e estagnação na maior parte dos países, mas pelos menos quatro boas novidades aliviaram o noticiário sobre a crise global. Não foram suficientes para anular o temor de novo arrocho fiscal nos Estados Uni­dos, mas trouxeram alguma esperan­ça de melhora no quadro internacio­nal. Têm surgido sinais positivos na economia americana, os europeus entraram em acordo sobre o contro­le bancário na zona do euro, um no­vo esquema de ajuda à Grécia foi de­finido e o ajuste fiscal avança em vá­rios dos países mais endividados. As últimas boas novidades vieram dos Estados Unidos, com dados sur­preendentes de crescimento do Pro­duto Interno Bruto e reativação do consumo.

A economia americana cresceu no terceiro trimestre em ritmo equiva­lente a 3,1% ao ano. A estimativa, an­terior havia indicado 2,7%. Nenhum outro país desenvolvido exibe sinais tão fortes de recuperação. Em no­vembro, o desemprego caiu para 7,7% da força de trabalho, a renda pessoal aumentou 0,6% (a maior al­ta em nove meses) e os consumido­res gastaram 0,4% mais que em outu­bro em itens como carros, alimen­tos, roupas, saúde e viagens.

Esses primeiros dados de novem­bro permitem algum otimismo quan­to à manutenção de um bom ritmo de crescimento no quarto trimestre, mas isso ainda será conferido den­tro de algum tempo. Esses números foram publicados quando o presi­dente Barack Obama ainda negocia­va com os líderes republicanos um acordo para impedir no começo do ano um desastroso aumento de im­postos sobre a classe média combi­nado com a extinção de benefícios fiscais econômica e socialmente im­portantes.

Na zona do euro, os governos dei­xaram para o primeiro semestre do próximo ano a solução de vários te­mas de grande alcance, mas concor­daram em atribuir ao Banco Central Europeu (BGE) a missão de regular e fiscalizar a atividade dos bancos mais importantes para o sistema re­gional. Os países da zona do euro criaram uma união monetária sem dispor de uma articulação efetiva das políticas fiscais e sem um contro­le comum dos negócios bancários.

O novo papel atribuído ao BCE de­verá, segundo se espera, permitir a imposição de uma disciplina comum às principais instituições financeiras dos 17 países-membros da união mo­netária. Além disso, já se avançou na montagem de um novo sistema de socorro aos bancos em dificuldades. Com o novo esquema, deve ficar mais fácil cuidar separadamente dos problemas do setor bancário e das di­ficuldades dos Tesouros nacionais.

Também complicada foi a decisão sobre a nova etapa da ajuda à Grécia. Na terceira semana de dezembro foi acertado, finalmente, um pacote de € 41,9 bilhões para desembolso até o primeiro semestre de 2013. Além dis­so, o governo grego ganhou um pra­zo adicional para completar o pro­grama de ajuste das contas públicas combinado com a Comissão Euro­péia, o BCE e o Fundo Monetário In­ternacional (FMI). Uma extensão de prazo já havia sido concedida a Por­tugal, mas a negociação, nesse caso, foi mais simples, porque o governo português havia avançado mais rapi­damente na arrumação das contas públicas.

A recuperação europeia seria pro­vavelmente mais rápida e menos do­lorosa se houvesse uma combinação mais equilibrada de ajuste fiscal e crescimento, mas para isso seria ne­cessária uma articulação dos vários governos da zona do euro. A resis­tência a esse tipo de combinação tem sido sustentada principalmente pelas autoridades alemãs.

Os governos empenhados nas polí­ticas mais duras de ajuste enfren­tam, além da oposição alemã a no­vas estratégias, enormes dificulda­des internas para executar seus pla­nos. A renúncia do primeiro-minis­tro italiano Mario Monti é mais um capítulo dessa história. O desempre­go na zona do euro deve aumentar nos próximos dois anos e superar 12%, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Eco­nômico (OCDE). Os Estados Uni­dos têm ido na direção contrária, mas isso pode mudar, se a recupera­ção for travada no próximo ano.