Título: Decisão de afundar navio argentino foi tomada em almoço
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/12/2012, Internacional, p. A8

Os documentos abertos do National Archives, de Londres, re­velaram que a decisão de afumdar o cruzador General Belgra­no, maior navio argentino, du­rante a Guerra das Malvinas, em 1982, foi tomada durante um al­moço da primeira-ministra Margaret Thatcher com seus ministros em Chequers, casa de cam­po do premiê britânico.

Londres decidiu que qualquer navio ou submarino argentino que ameaçasse as forças britâni­cas poderia ser afundado, mes­mo que estivesse fora da área de exclusão criada para delimitar o conflito. A principal preocupa­ção era o porta-aviões argentino 25 de Maio. O alvo, porém, foi o Belgrano, que foi torpedeado no dia 2 de maio pelo submarino Conqueror. O navio foi a pique matando 323 marinheiros. Ou­tros 700 foram resgatados.

Os documentos indicam que, no dia 5 de maio, o ministro da Defesa britânico, John Nott, afirmou em um jantar de representantes da Otan que "a decisão fo­ra tomada por um grupo de ministros liderados por Thatcher".

O Belgrano foi construído em 1935. Sobrevivente do ataque japonês a Pearl Harbor, em 1941, foi revendido à Argentina após a 2.a Guerra pelos EUA. Embora antiquado, seus canhões aterro­rizavam a Marinha britânica. Seu afundamento é considerado um crime de guerra pelos argen­tinos. O ex-vice-chanceler Andrés Cisneros disse ontem que o afundamento do Belgrano foi proposital, com a intenção de chocar os argentinos e impedir qualquer alternativa negociada jpara o conflito.

Os documentos revelam deta­lhes sobre os esforços de outros governos para uma trégua entre Londres e Buenos Aires, entre eles uma proposta de reunião que o presidente mexicano, José López Portillo, tentou organizar entre o general Leopoldo Galtieri e Thatcher em Gancún.

Nos últimos 20 anos, diversos historiadores britânicos haviam sustentado que Thatcher pen­sou seriamente em bombardear a Argentina. Mas, até o momen­to, nenhum documento oficial corrobora essa teoria.

Três documentos confirmam que assessores de Thatcher planejaram bombardeios na Patagô­nia, principalmente a bases áreas. No entanto, os documen­tos mostram que os ataques eram considerados apenas pelos assessores da premiê.

Os arquivos também indicam que os EUA estiveram a ponto de comunicar à ditadura argentina uma manobra militar britânica para demonstrar a Galtieri que o país permaneceria neutro. O pla­no havia sido elaborado pelo se­cretário de Estado Alexander Haig, que pretendia avisar que os britânicos atacariam a ilha Geórgia do Sul.

A ideia de Haig era comunicar "de forma imprecisa" os planos britânicos quando fosse tarde de­mais para que os argentinos pre­parassem uma reação. Os ameri­canos estavam preocupados com o destino dos militares ar­gentinos, que haviam colabora­do na luta anticomunista. No en­tanto, Haig foi dissuadido pelo embaixador britânico nos EUA, Nicholas Henderson. Ele disse que a antecipação da manobra te­ria um efeito devastador sobre a estratégia de Londres.