Título: O abastecimento de gasolina
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/01/2013, Notas e informações, p. A3

Com a produção nacional de gaso­lina e outros deri­vados de petró­leo chegando ao limite máximo, a Petrobrás improvisa soluções para evitar problemas de abas­tecimento. Por exemplo, foi es­tabelecido pela Instrução Nor­mativa 282, de 16 de julho, da Secretaria da Receita Federal, um prazo de 50 dias para entre­ga ao Sistema Integrado de Co­mércio Exterior (Siscomex) da documentação relativa à im­portação de petróleo, deriva­dos e gás natural As empresas, em geral, têm prazo de 20 dias para a apresentação desses do­cumentos. Com isso, criou-se uma defasagem na contabiliza­ção pela Secretaria do Comér­cio Exterior (Secex) da impor­tação de combustíveis. A verda­de pode tardar, mas acaba apa­recendo. Pelas últimas estatís­ticas disponíveis, verifica-se que o valor acumulado de janei­ro a outubro das compras de gasolina no exterior atingiu US$ 2,328 bilhões, um aumen­to de 122% em relação ao mes­mo período de 2011. E estima- se que o gasto efetivo em 2012 ultrapasse US$ 6 bilhões, em­bora parte desse total só seja contabilizada em 2013. Agora, com o congestionamento dos portos, a Petrobrás estabele­ceu "polos alternativos" para distribuição de gasolina, o que agrava os problemas de logísti­ca, principalmente no Norte e no Nordeste, onde o combustí­vel chega por navio.

Segundo projeção do Sindica­to Nacional das Empresas Dis­tribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), o consumo de gasolina no País este ano deve crescer 6,5%, mais de seis vezes a taxa de ex­pansão do PIB, que o mercado estima em 1%, "Não me lem­bro de um PIB tão pequeno com vendas de combustíveis tão elevadas", comentou Alísio Vaz, presidente da entidade. Entre os fatores para esse des­compasso, são mencionados o aumento de renda do consumi­dor (crescimento previsto de 6% da massa salarial), amplia­ção muito rápida da frota de veículos em circulação, queda na oferta de etanol hidratado e o congelamento pelo governo dos preços dos combustíveis.

Os responsáveis pela políti­ca econômica, como é claro, vêm segurando o reajuste dos combustíveis para não agravar a inflação, que pode fechar 2012 na marca de 5,5%, pelas projeções do mercado. Mas, com o aumento de custos e a aceleração das importações de combustíveis, chegará o dia em que será impraticável man­ter os preços no patamar atual, sem prejudicar seriamente as receitas e os investimentos da Petrobrás, como a própria pre­sidente da estatal, Graça Foster, tem alertado.

As preocupações com o abas­tecimento de gasolina crescem nesta época do ano, quando o consumo aumenta. O Sindi­com fala em "restrições" ou "estresse" no abastecimento, mas, por enquanto, só houve falta generalizada de combustí­vel no Amapá. A Petrobrás ga­rante que não haverá desabas- tecimento de gasolina, mas, ainda segundo o Sindicom, a estatal começou, desde setem­bro, a ampliar o prazo de entre­ga do combustível às distribui­doras no Norte e no Nordeste. A estatal nega ter alterado pra­zos nos contratos em vigor.

Comprovando a situação de incerteza existente nessa área, surge uma tendência para au­mentar a estocagem de com­bustíveis, de modo a garantir o abastecimento, pelo menos em algumas regiões. Isso gera natu­ralmente um aumento de cus­tos, o que leva a negociações para que as distribuidoras assu­mam parte deles. Nesse caso, o custo adicional acabaria sendo repassado ao consumidor.

Contudo, mesmo essa alter­nativa pode não se mostrar viá­vel em muitos casos, uma vez que as instalações especiais pa­ra armazenagem de combustí­veis são limitadas. O presiden­te do Sindicom se declarou fa­vorável a investimentos em es­toques, de modo a dar mais fle­xibilidade para atendimento ao mercado. Para esse fim, dis­se ele, as distribuidoras investi­ram R$ 1 bilhão este ano. Pelos seus cálculos, será possível ex­pandir a capacidade de estoca­gem de 20% a 50%, se esse rit­mo de investimentos for manti­do "nos próximos anos".

A questão central é que o Brasil está altamente depen­dente da importação de gasoli­na e outros combustíveis e não há previsão de que o quadro se altere antes de 2014.