Título: MST perde espaço político e dinheiro com novo modelo
Autor: Arruda, Roldão
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/01/2013, Nacional, p. A4

As mudanças produzidas pelo governo Dilma Rousseff no Incra estão atrofiando o Movimen­to dos Sem-Terra (MST). A organização só tende a perder espaço com a transferência de ativida­des do Ministério do Desenvolvimento Agrário para outras pas­tas. A entrega da tarefa de cons­trução de moradias, por exemplo, para o programa Minha Ca­sa, Minha Vida, fará com que os projetos deixem de passar pelas superintendências regionais, on­de a influência do movimento sempre foi mais marcante.

Mudanças no critério de repas­se de recursos para ONGs com as quais o MST mantém parceria também estão afetando a vida do movimento social. Agora, há me­nos recursos disponíveis.

Os canais de interlocução com o governo não funcionam como no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. A presidente Dil­ma ainda não recebeu represen­tantes do movimento nem ves­tiu boné vermelho para fotos.

A Secretaria-Geral, do minis­tro Gilberto Carvalho, tem se li­mitado a atuar como bombeiro nas crises com os sem-terra. Ro­gério Sotilli, secretário executi­vo da pasta, ligado ao ex-ministro José Dirceu, implementou uma dinâmica que reduziu a pre­sença de líderes de sem-terra nos órgãos da Presidência.

Há oito meses, Valdir Misnerovicz e seus colegas da direção nacional do MST entregaram ao governo uma pauta de pedidos, mas até agora não houve respos­ta. "O governo só nos chama pa­ra informar sobre aquilo que vai ocorrer. Deixamos de participar da parte dê conceber as políti­cas", afirma. "O governo vai se distanciando dos movimentos."

Misnerovicz avalia que a per­da de funções do Incra não deixa o órgão mais forte para fazer de­sapropriações e assentar famí­lias. Ele estima que 85 mil famí­lias vivem hoje em 800 acampa­mentos, à espera de terra.

"Está havendo uma centraliza­ção de poderes, que é caracterís­tica desse governo, onde a buro­cracia e a tecnocracia têm mais força que a política", afirma.