Título: É preciso atualizar a leitura da questão fundiária
Autor: Arruda, Roldão
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/01/2013, Nacional, p. A4

Para presidente do Incra, concentração de terra é problema Localizado, fruto do processo de ocupação territorial do País

Carlos Guedes, funcionário de carreira e presidente do Incra : desde julho, acredita que che­gou a hora de uma releitura da questão fundiária brasileira. Na entrevista abaixo ele sinaliza o que deveria ser rediscutido.

Como vê a crítica ao governo em razão do elevado índice de concentração de terras?

De um total de quase 5 milhões de imóveis cadastrados no País, existem cerca de 8 mil com área superior ou igual a 5 mil hecta­res, que estão concentrados em alguns Estados, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Ba­hia, Pará. Em 18 Estados não chega a 200 o número de imó­veis com 5 mil hectares. Em São Paulo estão registrados 109. em Santa Catarina, 16. O curioso é que quando cruza esses dados com os dos acampamentos, uma coisa não bate com outra: eles não estão nas áreas com maior concentração. Nos muni­cípios com o grosso dos acam­pamentos de sem-terra a área média dos grandes imóveis não passa de 2 mil hectares.

Está dizendo que não há con­centração fundiária?

Estou dizendo que o problema é localizado e fruto do próprio processo de ocupação do terri­tório. No Mato Grosso os mó­dulos fiscais são maiores, assim como no Pará. Isso não quer di­zer que a gente não vai fazer na­da diante do problema. O que eu quero deixar claro é que a ideia de uma mudança estrutu­ral no índice de desigualdade não vai acontecer, porque o pro­blema é localizado, e porque não vamos promover uma nova colonização do País, como foi feito na década de 70. É preciso fazer uma leitura atualizada da estrutura fundiária e sobre ela executar a reforma agrária.

O Incra está encolhendo?

Não. Estamos encerrando um ciclo, uma ideia oriunda dos projetos de colonização dos anos 70, nos quais o Incra era o provedor de todos os benefí­cios para as famílias que ti­nham acesso à terra. Naquela época tinha sentido o Incra fa­zer estradas, casas, escolas, pos­tos de saúde, mas hoje não é mais assim. Temos que dividir com outros órgãos da União, dos Estados e municípios a im­plantação de políticas públicas. Com isso, o orçamento da refor­ma vai se multiplicar várias ve­zes, permitindo cuidar melhor dos 87 milhões de hectares que estão ocupados hoje com áreas de assentamentos.