Título: Cabral põe Pezão na rua para garantir continuidade no Rio
Autor: Junqueira, Alfredo
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/01/2013, Nacional, p. A5

Vice-governador deve disputar a eleição estadual só daqui a dois anos, mas já conta com ajuda de profissionais

O torneiro mecânico Darcy Souza, 86 anos, não acreditava muito nas chances de seu filho, Luiz Fernando, na disputa de sua primeira eleição à Câmara Municipal de Piraí, pequena ci­dade no interior do Rio de Janeiro, em 1982. Para ajudá-lo, resolveu fazer uma graça com os vizinhos inspirando-se na principal característica física do filho. Pegou uma tábua de madeira e talhou um pé enor­me. Escreveu "Luiz Fernando Pezão" e o número do garoto na disputa, pendurando a peça publicitária improvisada no bar mais frequentado do bairro.

O filho do seu Darcy se ele­geu vereador, depois faturou duas disputas à Prefeitura de Pi­raí (1996 e 2000), virou secretá­rio estadual e desde 2007 é vice- overnador. Principal gestor da administração fluminense, foi ungido pelo governador Sérgio Cabral (PMDB) como candida­to a sua sucessão em 2014.

Responsável pelas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no Rio, tem excelente trânsito no gover­no federal e chegou a ser cotado para assumir um ministério no início da administração Dilma Rousseff - que o adora.

Apesar do currículo, Pezão - 57 anos e calçado n° 47/48 - ainda é um ilustre desconheci­do. Lançado por Cabral em 2010 a viabilidade eleitoral de­le ainda é vista com descon­fiança até por peemedebistas.

Campanha- Para tentar rever­ter o quadro, Cabral e Pezão co­locaram a chamada pré-campanha na rua depois do 2° turno das eleições municipais. Os tempos do marketing amador do pai ficaram para trás e, des­de o início de novembro, o vice- governador passou a ser tutela­do por profissionais do pacote de comunicação de Cabral.

A FSB Comunicações assu­miu sua assessoria de imprensa e o publicitário e antropólogo Renato Pereira, dono da Prole Gestão de Imagem e estrategis­ta das campanhas vitoriosas de Cabral e do prefeito Eduardo Paes (PMDB), já atua como con­sultor informal da candidatura.

As duas empresas prestam serviço para a administração es­tadual. A FSB recebe RS 18 mi­lhões anuais para cuidar da as­sessoria de imprensa do gover­no - incluindo a vice-governadoria. Já a Prole faz parte da PPR - Profissionais de Publici­dade Reunidos, uma das seis agências que administram a pro­paganda institucional do Esta­do - cujos gastos somaram R$ 206 milhões em 2011.

A espontaneidade de Pezão passou a ser regulada, e ele pra­ticamente sumiu do noticiário. A quase dois anos da disputa eleitoral, a prioridade é evitar desgastes. Até porque o vice- governador terá dois adversáios experientes em pleitos ao estilo vale-tudo: o ex-governa­dor e deputado federal Anthony Garotinho (PR) e o sena­dor Lindberg Farias (PT).

Em pelo menos duas ocasiões este ano, por exemplo, o vice-governador fez questão de fazer elogios a Delta Constru­ções - empreiteira que mais fa­turou em obras com a adminis­tração Cabral e que se tomou al­vo de todo tipo de suspeita de pois que a Polícia Federal reve­lou, na Operação Monte Cario, as relações de sua diretoria com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Cadinhos Cachoeira.

"Ela (Delta) é uma empresa agressiva e por isso tem mais contratos", defendeu Pezão, no fim de abril, dias antes de Garo­tinho divulgar em seu blog fo­tos e vídeos de Cabral em com­panhia do dono da construtora, Fernando Cavendish, e de secre­tários de Estado em festas e res­taurantes de luxo pela Europa.

Imagem. Pezão recusou-se a dar entrevista ao Estado. Segun­do sua assessoria, a prioridade neste momento é a agenda de entrega de obras do governo.

O desempenho de Pezão em 2014 depende totalmente da avaliação de Cabral pelo elei­torado - afirmam integrantes da equipe da dupla. O desastre na imagem do governador provocado pelo escândalo Ca­choeira-Delta e as fotos dele com Cavendish está sendo re­vertido, segundo dados de pes­quisas internas aos quais o Es­tado teve acesso.As avaliações de "ótimo" e "bom" de Cabral somavam 53% antes do escândalo. Des­pencaram para 34% após a di­vulgação da fotos. Na reeleição de Paes, em outubro, esse número chegava a 45%. Em no­vembro, subia para 48%.

Com a recuperação do go­vernador, Pezão será apresen­tado ao eleitorado como repre­sentante do que será chamado de "Renascimento do Rio", nu­ma clara comparação entre as gestões Cabral e as do casal Anthony e Rosinha Garotinho, ressaltando a pacificação de favelas, investimentos em infra estrutura e os grandes eventos esportivos.

Embora o PMDB do Rio ain­da conte com uma pressão do PT nacional para abater nova­mente a candidatura de Líndberg, como ocorreu cm 2010, a equipe que prepara Pezão tam­bém articula uma estratégia pa­ra tentar neutralizar o carisma do petista. Para isso, vai refor­çar a imagem do vice-governador como político dotado de três elementos de capacidade pessoal "fundamental": diálo­go, realização e liderança.

Pezão ainda contará com uma extensa agenda de inaugu­rações de obras sob sua respon­sabilidade para tentai decolar até 2014, como a reforma do Maracanã para a Copa do Mun­do, o Arco Metropolitano e no­vas intervenções em favelas e comunidades carentes.